08 de novembro | 2015

Cadê o Marco Zero? Depois do projeto de diminuição de salário de vereadores zerou de vez?

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Willian Zanolli

Alguém está lembrado que até há pouco tempo atrás tinha um vereador entre os vários da pior representação legislativa dos últimos anos que fazia um barulhão danado.

Andava roseteando a espora nos paralelepípedos e soltando faíscas de assustar até boi Miura, daqueles que enfrentam com garbo, des­temor e fúria as ban­dari­lhas que lhe picam o dorso.

Não é o Miura um boi­zi­nho qualquer de se montar e cair de cima, um touro Ban­dido, é touro resistente de se entregar esvaído de sangue e glória, ou renascer depois de guardar fundo nos toureiros através dos chifres sua ânsia pela vida.

Empolguei-me. Deixemos Marcos Santos e seus esquecimentos, sua nostálgica caminhada para o anonimato e vamos viajar as cruéis touradas de Madri.

A alma pede refrigérios certas horas, e a minha a­tenta ao mundo, observadora de todas as paisagens pede esta diversidade, me encaminha para aquilo que de certa forma repudio, pelo maltrato aos animais, e ao mesmo tempo me fascina em razão do encontro da desnecessária e abominável necessidade que o homem tem em relação ao exercício da maldade e a luta feroz pela sobrevivência travada pelo animal conduzido a um espetáculo desnecessário e tosco que prova a barbárie humana.

Para quem não sabe o que é uma tourada, senta ai na arquibancada da vida que vamos papear sobre este espetáculo, que aos poucos vai sendo esquecido e abandonado como muitas des­necessidades humanas e mu­itos humanos cujas ações não se revelam tão necessárias ao crescimento cultural da humanidade, entre elas, na minha opinião, os toureiros.

Pensaram que eu ia escrever outra coisa né.

 Não, agora incorporei o touro e vou, acho, que até o final.

A Espanha tem algumas marcas na sua cultura, entre elas a tourada e o flamenco, confesso que sou muito mais Paco de Lucia que El Cordobès.

O touro é tão mais importante que o toureiro que a temporada é tau­ri­na, começa em maio e o auge da festa ocorre em Madri, por causa das festas de São Isidro.

Em Madri está localizada a Plaza de Toros Las Ventas onde todo toureiro de renome deve passar pelo menos uma vez na vida.

As touradas, ainda bem, já estão proibidas nas Ilhas Canárias e na Catalunha.

O povo espanhol está dividido em relação às to­u­radas, os jovens não a­póiam em grande parte o espetáculo.

A atividade ainda é rentável, razão pela qual muitos ainda apóiam, outros defendem por entenderem que as touradas fazem parte da tradição espanhola, os detratores do evento argumentam que certos costumes tem que ser abolidos e acompanhar a evolução dos tempos.

Nesta enquete não perguntaram a minha opinião, de abelhudo a emito e friso que acho algo abominável, bárbaro e de uma crueldade sem fim.

Tudo tem um porque, vamos agora ao porque deste “calvoreca” que nunca passou nem a milhares de quilômetros de uma Plaza de Toros e está se rebelando tanto com algo que muita gente nem sabe do que se trata, visto o esquecimento em que se encontra, como muitas coisas e pessoas.

Objetivamente o que se pretende em uma tourada é matar o touro, e ai o toureiro fica provocando o bicho, e não faz esta meleca sozinho, é ajudado pela “quadrilha” que são três colegas que lhe dão assistência e os “picadores” que espetam o “tadinho” do touro com lanças pontiagudas  

 O toureiro terá três tempos ou tercios, que duram uns oito mi­nu­tos, para exibir suas habilidades e matar o touro.

No começo do espetáculo soltam o bicho. A quadrilha e o toureiro o provocam. Soa o clarim. Fim do primeiro tercio.

Entram os picadores. Um deles deve ferir o touro no dorso.

Detalhe: os olhos dos cavalos dos picadores são completamente vedados, pois o touro investe contra eles impiedosamente.

Após este primeiro ferimento, os quadrilheiros espetam as banderilhas no bicho. O sangue jorra e o touro fica fraco, cansado e enfurecido. Fim do segundo tercio.

Sem ajuda da sua quadrilha, toureiro e touro se enfrentam.

O toureiro utiliza sua capa rosa para atraí-lo e o provoca com gritos. O toureiro exibe sua maestria manejando a capa, enganando o touro, todo ensanguentado, pois este pensa que homem está por detrás do pano. Troca-se a capa rosa pela vermelha e com esta, a espada.

O objetivo é cansar mais o touro e enfiar a espada no seu dorso, nos buracos abertos pelos picadores, direto ao coração.

São três tentativas. Se o toureiro alcança na primeira é a glória. O touro morre imediatamente, o povo desumano e tolo aplaude, acenam lenços brancos e ele percorre a arena agradecendo, recolhendo rosas, moedas e algum bilhetinho apaixonado atirado pela patuléia.

Se não consegue é vaiado e xingado como atacante que perde pênalti.

Então, viram que coisa idiota que fazem com o touro, uma selvageria que não deveria caber no terceiro milênio, assim como outras que o ser humano comete contra a sua espécie naturalizando a maldade e tantos feitos e malfeitos que tem hora que a gente fica se perguntando se vale a pena viver diante de tantas atrocidades.

Ainda bem que as touradas estão indo para o esquecimento, perdendo público, expectadores.

Pensando bem, tão triste quanto isto é ver, por outro lado, os circos também encaminhando para um final melancólico, abandonados, esquecidos.  

Eu adoro circos que não exploram bichos, um espetáculo tão rico, gracioso, e ao mesmo tempo…

Opaaaaa… comecei falando de uma coisa, falei de outra e de outra como se fosse a mesma coisa.

No início era Marcos Santos, o Zero, sendo arrastado pelo aluvião, pelas correntezas enigmáticas do abandono, do descrédito popular, que falou tanto e nada fez, e ameaçado buscou o silêncio, o breu, as tocas, como se amedrontrado tivesse as unhas aparadas como os felinos do circo, não teve a garra de um Miura que estraçalha quando pode toureiros e cavalos.

Marco Zero bateu em retirada estratégica e o que restou dele é como se fora a sombra que restará um dia das touradas e tomara que não tenha o mesmo destino os circos, que o que mais gosto nesta vida é de palhaçadas, a alma infantil dos palhaços que joga para a platéia e extrai sorrisos de vidas tristes e angustiadas me atrai.  

 

Willian A. Zanolli é ar­­tista plástico, jornalista, estudante de Direito, pode ser lido no www.willianzanol­li.­blo­gs­pot.com e ouvido de segunda, quarta, quinta e sextas-feiras, das 11h30 às 13h­00 no jornal Cidade em Des­taque, na Rádio Cidade FM 98.7, e, aos domingos, no Sarau da Cidade, das 10h00 às 12h00, na mesma emissora de rádio.

 

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