19 de abril | 2020

Como será o amanhã? Responda quem puder.

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“Eu vejo o futuro repetir o passado; Eu vejo um museu de grandes novidades; Eu não tenho data pra comemorar; Às vezes os meus dias são de par em par; Procurando agulha num palheiro; Nas noites de frio é melhor nem nascer; Nas de calor, se escolhe, é matar ou morrer; E assim nos tornamos brasileiros; Te chamam de ladrão, de bicha, maco­nheiro; Transformam um país inteiro num puteiro; Pois assim se ganha mais dinheiro; A tua piscina tá cheia de ratos; Tuas ideias não correspondem aos fatos; O tempo não para; Não para não, não, não para”.  

Cazuza/Arnaldo Brandão.

DEPOIS DE …

… quase um mês da decretação da quarentena, (que deve ter atingido uns 40% da população de Olímpia), a sensação que dá, para quem mudou sua rotina tão bruscamente, é a de que as coisas se transformaram faz mais de um século.

EM MEIO A ESTE, …

… estado misto de incredulidade e frustração por ter perdido aquela rotina que a maioria não gostava, mas que era real, segura, quase constante, a imagem que vem à mente co­mo base da reflexão é a de que, por mais que se tente entender, por mais que se escute os especialistas da área, tudo não passa de uma grande interrogação. O que será, à flor da pele?

CHICO, PARA MUITOS, …

… utilizou todo o seu recurso retórico para falar de liberdade num momento crítico de nossa história, que a morte espreitava qualquer um que pensasse e o inimigo empunhava baioneta, torturava e matava nos porões, na calada da noite, ou mesmo na escuridão dos dias.

O INIMIGO …

… tinha cara, tinha ideologia, tinha método. Era pos­sível estabelecer táticas de como combatê-lo. Poderia ser vencido pelo escra­char dos seus atos, pelo con­vencimento das massas.

TALVEZ ISSO …

… explique esta sensação de impotência, de incapacidade de enfrentar um inimigo que não se vê. De ter que lutar contra o invisível e ter como única saída se esconder dentro do próprio lar, com as portas fechadas.

O GRANDE PROBLEMA …

… é que a falta de conhecimento sobre o inimigo faz com que pessoas com larga experiência, com conhecimento e aprimoramento constantes, se trans­formem em meros “achistas”, acreditando em teses sem comprovação à exaustão, como tem que ser a boa teoria científica.

NESTE PONTO …

… você já deve ter percebido que a reflexão de hoje não é sobre a guerra fria, ou a tão propalada guerra nuclear, mas, sim, sobre esta guerra mundial, que ao contrário do que se esperava, que fosse de países contra países, se dá justamente contra um ser microscópico, tão pequeno, mas com um gigante poder de destruição, eis que age sem que ninguém possa vê-lo e, desconhecido que é, sem saber, com certeza, nem como evitá-lo. Tudo é mera conjectura.

E O PIOR É QUE …

… uma guerra tão complexa se dá num mundo conturbado, em que as pes­soas se sujeitam a viver de mentiras, de teorias mirabolantes como o “terra­planismo”, e brigam para defender seres bestiais que descobriram como enganar parte da massa com imbecilidades e falsas descrições de uma realidade que nunca existiu.

AÍ SURGEM OS …

… capitães cloroquilas com ideias surrealistas e medíocres, mas que encontram guarida nos obtusos seres que parecem usar os antigos tapa-olhos dos animais de tração. Dentro deste cenário, teses mirabolantes são despejadas ao Leo, como saídas e soluções milagrosas, mas, que, ao contrário, podem matar.

A GUERRA, ENTÃO, TEM …

… que ser travada contra o inimigo mortal e também contra o fogo quase amigo vindo do próprio lado do campo de batalha que dispara incessantemente balas de grosso calibre que, embora de complexa mediocridade, também podem ter efeito devastador.

É QUANDO SE INSTALA …

… a insegurança em razão do inimigo ser desconhecido e imprevisível e o fogo amigo ser imbecil.

MAS, DIANTE …

… desta guerra complexa e inimaginável, qualquer tipo de previsão acaba sucumbindo pela falta de conhecimento. O que era para durar dias, acaba se prolongando por meses e a grande massa vai se desintegrando também pelo stress, pela falta de qualquer perspectiva de futuro, onde o risco de morte é iminente.

O SER HUMANO, …

… então, passa a dar valor na rotina e até na vida entediante de antanho, mas que, por pior que fosse, tinha o poder da previsão de que os dias aconteceriam da mesma maneira, meses e anos a fio, em conformidade com o que tinha sido programado ou for­matado para viver: a rotina de quem é criado para ser robô de carne e osso.

E PARA DEIXAR …

… mais complicado ainda, é que dá para se encaixar aí a teoria mais esta­pafúrdia para con­tex­tua­lizar o tempo que nunca existiu, pois tudo são áti­mos de segundo. O que pensei para escrever a frase acima já não existe mais, virou passado. Mas preciso imaginar, neste ínfimo espaço de tempo chamado presente, entre o construir imagens pelos sentidos e confrontar descrições, que amanhã não vai ser tão diferente de hoje e vou continuar escrevendo com a minha vida uma rotina para qual fui preparado para existir.

COM A RUPTURA …

… desta relação entre fato e efeito previamente idealizado e diante do inimaginável, o que se percebe é que a vida, como achamos que deva ser vivida, nunca foi nada mais do que a simples rotina de algoritmos lógicos e totalmente previsíveis que nos escraviza como se fos­se­mos meras máquinas de produção para serem usadas e descartadas com o tempo.

MAS, PIOR AINDA …

… é saber que, sem esta programação simples e banal, nos sentimos perdidos, abobalhados, fragilizados, perdidos, sem chão.

José Salamargo … querendo responder uma simples questão: como será o amanhã?


 

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