06 de dezembro | 2020

Corrupto é o político que compra votos por se beneficiar da compra ilícita ou não?

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“Entendo que corrupto é o político que compra
votos por se beneficiar da compra
ilícita. E você, qual sua opinião?”

Willian A. Zanolli

Quem nasceu primeiro o ovo ou a galinha?

Esta resposta fica difícil de ser dada, quando, por analogia, se tenta transpor o cenário para o mundo político e se tenta achar quem é o mais corrupto quando se compra e vende o voto.

Bastaria se perguntar quem teve a necessidade primeira da compra de votos e por que ela acontece. Este modesto artigo pretende alinhavar algumas questões que podem conduzir o leitor a uma dedução sobre a questão.

Corre pela internet a tese de que o pobre é corrupto por que vende o voto.

Venho desenvolvendo uma tese simplista sobre o que penso ser uma inversão de valores e não tenho encontrado adeptos da teoria no ciclo restrito de amizades. Então, vou repassar pra você, leitor, neste espaço e, se puder comentar, agradeço.

Primeiro, entendo que há uma questão cultural que é a compra do voto desde o início das eleições. Portanto, algo que está incorporado como natural (embora não seja) na sociedade brasileira.

Desde o Império, nas eleições brasileiras a fraude eleitoral sempre foi prática recorrente. Mas foi no momento da Primeira República que a ação fraudulenta teve seu auge.

Naquele momento, o voto dos analfabetos era proibido, porém, para fraudar as eleições, os Coronéis entregavam escritos em um papel o nome do candidato aos seus empregados que o depositavam na urna. 

Até bem pouco tempo o voto era em cédula de papel e o patrão, fazendeiro, levava os empregados e colocava-os numa espécie de curral até a hora de votar. Nasceram dai os termos “voto de cabresto” e “curral eleitoral”.

Após a “votação” o patrão oferecia um almoço para os miseráveis, observa-se que hoje em dia substituíram o almoço dos excluídos pelo atual churrasco, pago antes da entrega do voto e naquele período era após.

Não se pode culpar apenas os pobres por venderem o voto, já que a classe média, que é um pobre que pensa que não, também  vende o voto só que de forma mais sofisticada.

 Assim como a fraude da compra de votos direta, havia também a venda de votos por pequenos interesses, promessas particulares dos oligarcas aos pobres, camponeses e empregados locais.

Para os casos onde a venda não garantia a lealdade do voto, formas violentas de convencimento o faziam, o que remete a ação das milícias atualmente.

A ideia da elite sempre foi ocupar espaços de poder para se aproveitar, tirar vantagem.

Instalada no poder, colocava a parentalha nos cargos de maior visibilidade ou orçamento para ganharem altos salários ou encaminhar obras para os próximos e se beneficiar disto.

Sem contar o fato de que contavam e contam com informações privilegiadas, desde o setor imobiliário até o mercado de ações, sabendo por onde irá passar o trajeto de uma avenida ou estrada, onde será instalado um loteamento, que empresas terão ações valorizadas ou desvalorizadas por conta de alguma ação governamental e outras situações.

Mesmo em uma cidade pequena estas informações são demais importantes para se investir onde haverá uma demanda que possa permitir a ampliação do patrimônio pessoal do político.

Sem contar distribuição de cargos, poder, inserção, vaidade.

A justiça diz que a aquisição ilícita de pleito, popularmente conhecida como compra de votos é uma prática eleitoral dolosa e ilícita, não necessariamente explícita, de adquirir votos em troca de bem ou vantagem de qualquer natureza, inclusive empregos, funções públicas, presentes e influências políticas.

O corrupto, no ordena­mento jurídico é quem adquire ilicitamente o voto e a justiça cega, muda e surda, desde 1500 nada vê, nada ouve, nada enxerga.

O grande beneficiado em corromper o cidadão é exatamente o eleito, o político, e o prejudicado o eleitor.

Ao cidadão, por falta de conhecimento ou desprezo pela política, a venda do voto no plano do imediato, parece, obviamente, uma grande vantagem, já que não crê que o candidato, se eleito, vá atuar em prol de si ou de sua família.

Não consegue ver vantagem em política, tirante no período eleitoral e retira o que imagina possa ser a única coisa que o político possa lhe dar.

No entanto quando precisar de um remédio ou consulta na rede pública devolverá o churrasco que ganhou com juros e correção monetária.

E o político, por sua vez, terá de volta o dinheiro gasto em campanha com juros pelos desvios provocados na Saúde, Educação, Segurança, etc.

Fica muito difícil ou quase impossível explicar a quem não tem noção de história, sociologia, filosofia e tantos “ias” a mais, que esta é uma construção secular que se instalou no inconsciente popular.

Data de 1532 a primeira eleição organizada no país que ocorreu na vila de São Vicente, sede da capitania do mesmo nome, e foi con­vocada por seu dona­tá­rio, Martim Afonso de Souza.

Somente um ano antes da proclamação da Independência, em 1821, ocorreu a primeira eleição brasileira em moldes modernos.

Nunca houve uma eleição no Brasil que não fosse pontuada pela corrupção e pelos desvios éticos.

E estes desvios começaram a ocorrer desde o momento em que a Monarquia teve que dividir poder com a elite financeira que, para usurpar eleições, praticou toda ordem de des­mandos e falcatruas e criou pelos séculos afora este vício que parece insanável de corromper e ser corrompido.

E como, desde o princípio, os empobrecidos, miseráveis, descamisados e desafortunados pagavam pela imoralidade que a elite disseminou no país, continua sendo discutido pela ótica de que não existiria corrupção se não fosse vendido o voto.

Se ocorresse de o pobre não vender o voto, o sistema, de tão corrupto que é, possivelmente exterminaria o direito ao voto e criaria um outro tão corrupto quanto este para manter o patriarcado no poder e, possivelmente, o pobre seria o culpado. Diriam que mudaram um sistema de voto que era confiável por outro por causa da venda do voto.

Afinal, não andam a dizer que o voto em cédulas de papel é mais confiável que o eletrônico?

Se esqueceram ou “não se lembram” de que foi exatamente este voto em cédula que deu origem ao curral eleitoral e ao voto de cabresto?

Entendo que corrupto é o político que compra votos por se beneficiar da compra ilícita.

E você, qual sua opinião?

Willian A. Zanolli é advogado, jornalista e artista plástico.

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