22 de setembro | 2019

Cunha conseguiu projetar na Olímpia de hoje uma metáfora da Casa Grande e Senzala

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“Pela força, pelo temor, pela opressão, pelo medo, o patriarca, o dono de tudo, impõe seus desejos, suas vontades, exerce a própria loucura da onipotência sobre todos”. Mestre Baba Zen Aranes.

APENAS A TÍTULO …

… de introdução a um contexto metafórico, sem entrar nas acaloradas discussões geradas pela própria metáfora realista criada pelo sociólogo Gilberto Freyre no seu premiado Casa-Grande & Senzala, é preciso destacar que no livro, que foi sucesso internacional, publicado em 1933, Freyre apresenta a importância da casa-grande na formação sociocultural brasileira, assim como a da senzala na complementação da primeira.

PARA A NOSSA …

… metáfora, no entanto, o que importa é que a Casa-Grande era como se fosse um castelo onde morava o senhor todo poderoso e dono da vida e da morte de seus subjugados e a senzala onde estes últimos habitavam, ficava disposta de forma a enfatizar esta própria dominação.

TAMBÉM, …

… que na opinião de Freyre, a própria arquitetura da casa-grande expressaria o modo de organização social e política do Brasil, o “patriarcalismo” em tempos de um Brasil Colônia, que, ao que parece, Olímpia ainda não conseguiu superar.

O PATRIARCA, …

… o proprietário da terra, era considerado dono de tudo que nela se encontrasse: escravos, parentes, filhos, esposa, amantes, padres, políticos. Este domínio se estabeleceu incorporando tais elementos e não os excluindo. O padrão se expressa na casa-grande que é capaz de abrigar desde escravos até os filhos do patriarca e suas respectivas famílias.

PROJETANDO …

… este cenário que você imaginou para estas terras que sempre foram dominadas por nossos coronéis (ou patriarcas) e aplicando os dois estigmas que surgiram nos últimos anos, com a ascensão ao poder de um representante direto da nossa hoje elite “rentista”, um patriarca que um dia foi “sinho­zi­nho”, ou seja, de que se tem nojo de pobres e só se governa para os do seu grupo, temos a formação virtual ou imaginária de uma Casa-Grande e Senzala folclórica chamada Olimpia sem acento.

NO ASPECTO …

… patriarcal, com raras exceções, tivemos os donos de nossas terras imperando no comando da cidade, seja direta ou indiretamente.

ATUALMENTE, …

… entretanto, as coisas parecem caminhar para a configuração de um verdadeiro “sinhozinho que virou senhor de engenho”, que se sente onipotente e dono de tudo e de todos, que está transformando a cidade numa extensa propriedade (com cotas de participação) com uma grande “Casa-grande” imensa, mas com duas senzalas postadas estrategicamente como no romance de Gilberto Freyre.

“SINHOZINHO”, …

… usando a opressão, o medo e a ameaça de processos como chibata estalada a todo instante, tenta manter as duas senzalas comendo feijoada com os restos que sobram da manutenção de seus investimentos.

CONTENDO …

… as revoltas ou não, trabalha para manter conservado o sistema que garante o poder para ele e os seus, sem deixar que surja nenhum zumbi dos pal­mares ou qualquer outra possibilidade de desa­juste, inclusive colocando em cada poste das senzalas os dispositivos capazes de denunciar seus algozes.

PARA …

… ilustrar a visualização, a imagem da nossa Casa-Grande e de nossas duas senzalas, vamos ter como eixo divisor o poluído riacho Olhos D’Água, com sua Avenida Aurora.

CONSTRUA …

… na sua imaginação, uma casa-grande gigante tendo a dita avenida como alicerce central e a rua Boia­deira (Benjamin Cons­tant) como a porta de contato com as senzalas.

DELA PARA FRENTE, …

… com sua sujeira exposta, seu abandono, indo no sentido da Vila São José, pelo lado esquerdo (do lado da Igreja de Nossa Senhora Aparecida) até os novos bairros, Aroeira, Quinta das Colinas, Morada Verde, Harmonia e Santa Fé, a Senzala dos mais pobres, dos que prestam os serviços mais pesados.

NO MESMO SENTIDO, …

… mas postando à direita no sentido da igreja Matriz, a Senzala três estrelas, onde viveriam os escravos mais privilegiados, aqueles que têm direito a servir o “sinhozinho” diretamente, até trabalhar na Casa Grande  (a nossa atual classe média baixa).

E É ASSIM …

… que a gente vai levando … porrada … porrada. Até quando?

José Salamargo – dentro de um túnel que não tem fim, já carcomido pela dor nas costas, ca­pengando, mas sempre acreditando que um dia poderemos evoluir para uma situação mais humana e menos escravizante e assassina como esta. Quem sobreviver, certamente verá.

 

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