13 de janeiro | 2014

Indo à luta

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Do Conselho Editorial

Não é novidade que no imaginário popular o ano, em termos de produção só começa no Brasil depois do carnaval.

Até lá vai se empurrando com a barriga as questões fundamentais, discutindo-se apenas os farrapos de noções obrigatórias.

Há um cheiro de maresia no ar, um não sei quê de ranchos e festas, qualquer coisa em que os dias todos em algum momento parecem feriados.

O brasileiro, mesmo atropelado em problemas e conflitos que vão se acumulando neste período perdido para alguns, e ganho para outros, que vai do Natal ao Carnaval, parece que flana acima de todas as possibilidades de que o mundo possa desmoronar a qualquer momento.

Os acontecimentos seguem sua marcha, os presos se rebelam e decapitam no Maranhão, a performance do PIB provoca temores na economia e a crise imobiliária que atingiu os EUA sinaliza que poderá se repetir na pátria das chuteiras.

Desmoronamentos, mortes, pessoas desabrigadas pelas enchentes em vários estados, a transposição do Rio São Francisco caminhando a passos de tartaruga, salário mínimo defasado e inflação retomando patamares que acendem a luz vermelha.

As praias superlotadas, com ações de grupos que fazem o arrastão e assustam os turistas.

Turistas que podem ser encontrados em quantidade volumosa na maioria das cidades que exploram o turismo, que lotam o Thermas e deixam Guaraci, Riviera e Pedregal, em clima de festa pela presença de pessoas que aproveitam o período para o merecido descanso.

E isto vai se esticando pelo Náutico Clube, pelos ranchos, pelas cidades contempladas com belezas naturais, que neste final e início de ano, recebem visitas de cidadãos que produziram riquezas com seus trabalhos e agora desfrutam de merecidas férias.

Enquanto as tragédias vão anunciando sua rotina natural de acontecer, visto que nunca deixaram de ser produzidas pela natureza ou pelo ser humano desde que o mundo é mundo, o Brasileiro parece que congela este período.

Nada disto, desde a morte da criança queimada no ônibus até a manifestação da ONU acerca da onda de violência tira a maioria do seu estado de hibernação social.

A outros povos, esta indiferença, que aos nativos não só parece natural como está incorporada na cultura, deve parecer como absurda e exótica demais, visto que é soante o discurso que nada ocorre neste período nesta nação.

E diante de tudo quanto deveria acontecer, há que se concordar que é como se houvesse um pacto travado entre o cidadão e o estado para que a indolência e a sensação de estar liberto de todas as responsabilidades pudesse se instalar.

É período de tangas, shorts, bermudas, cangas, biquínis, saídas de praias, fotos nas cachoeiras, descidas nos tobogãs naturais, escalada de montanhas, rapel, confecção de fantasias, ensaio de escolas de samba, tempo de louvação ao paganismo.

A alguns, principalmente os envolvidos em acontecimentos que não podem aguardar o dia de amanhã, a realidade se apresenta com outra face, visto que a rotina festiva não os inclui em função muito mais do destino que lhes foi reservado do que pela disposição pessoal de estar como pensa a maioria engrossando o coro que endossa que do natal ao carnaval nada acontece no Brasil.

Estes, mesmo que contrariados, entristecidos, emocionados, revoltados, indignados, vão cuidar da produção de bens ou da solução dos conflitos que os envolvem.

Entre estes estão os comunicadores, os jornalistas, que estão indo a luta como parte desta sociedade, para anunciar tragédias misturadas a praia super lotadas, estradas congestionadas, dramas e comédias de uma vida que vai seguir trajetória lentamente até que o carnaval aconteça.

É preciso ir a luta, bronzeado e de bermudas, de dentro de uma redação cujo ar condicionado tenta resistir as altas temperaturas, para informar e indiretamente mostrar que a vida, ao contrário da construção do mito de que o país para neste período, continua, cruel para alguns, feliz para outros, mesmo fluindo mais lenta, sempre vida.

 

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