31 de julho | 2016

O banheiro da rodoviária e a convivência respeitosa com as diferenças

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Willian Antonio Zanolli

Esta semana foi complicada, muito complicada, soltaram um vídeo de um rapaz careca fazendo sexo com outro homem em um banheiro.

A princípio atribuíram aquela imagem a minha pessoa e o banheiro, segundo meus detratores, era o banheiro da rodoviária local.

Pura maldade, mentira, difamação, injúria, feita criminosamente, possivelmente com objetivos políticos.

Neste momento, de início de campanha eleitoral, há interesses de grupos políticos no sentido de que a voz que discorda da mesmice que leva ao cenário de corrupção e desmandos se cale.

Por se tratar obviamente de uma mentira também atribuída a minha pessoa, o tal vídeo acabou atingindo outros carecas que não eu.
 

O mesmo “viralizou” em Olímpia e pelas informações iniciais estava na maioria dos grupos de wattsaps insinuando ou afirmando como se fora eu a pessoa a pessoa passiva filmada.

Óbvio que a pessoa que me conhece, olhando o vídeo ou mesmo a fotografia do senhor desprovido de cabelos estampada no jornal vai perceber que não se trata da minha pessoa, porém, alguém desinformado, poderá ser levado a crer que o vídeo foi gravado na rodoviária da cidade de Olímpia e a imaginar outras pessoas que se identificam com o personagem no vídeo, e nesta onda outros carecas foram citados.

Entre eles, o mais citado depois de mim, dizem que se trata de um taxista, que não se sabe o nome, mas que se compreende a citação exatamente por que nas buscas pela internet consegui descobrir que a origem deste vídeo, segundo a informação obtida, é que o mesmo começou a circular primeiramente no México e a pessoa indicada por lá que estaria sendo passivo na relação sexual seria um taxista.

No Brasil o vídeo “viralizou” por que inimigos do presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello, para difamá-lo, atribuíram a ele a conduta que seus preconceitos e discriminação condenam.

Não se trata do presidente do Flamengo, nem de mim, nem das outras pessoas citadas, e nem das outras em outras cidades por onde o vídeo está circulando difamando e injuriando carequinhas por este Brasil afora.

É complicado estar a desmentir situações em que somos envolvidos sem termos participado delas, principalmente a pessoas que se nos odeiam e insistem que há possibilidade de que seja, ou juram de pé junto por ai que o banheiro é da rodoviária local e que estamos lá quando não estivemos.

Imagina estar consigo vinte e quatro horas por dia e ter que provar a outrem que não esteve no lugar que não esteve, praticando ações que os falsos moralistas condenam? É como diria a moçada, um pé no saco.

A vontade é mandar um monte de gente para aquele lugar que não bate sol e que suspeitam alguns foi vasculhado em situação que os conservadores condenam.

A internet, na visão de alguns, se transformou infelizmente em terra de ninguém e está a serviço dos medíocres e dos insignificantes, ao infeliz serviço de destruição de reputações através de mentiras e fuxicos improcedentes e maldosos.

O vendaval que se transformou estes dias trouxe lições angustiantes e esperançosas. Se de um lado vimos com enorme tristeza o mau uso da ferramenta que é a internet e a quantidade de boçais irresponsáveis que o mundo está abrigando que compartilham inverdades como se verdades fossem, sem nenhuma noção de que podem ser punidos pela justiça, ou de que este tipo de ação atenta contra os princípios básicos de respeitabilidade a privacidade do outro, a honra.

Por outro lado, deparamos com a solidariedade dos que repugnam este tipo de ação por se tratar de algo que não deveria acontecer em pleno terceiro milênio e que dá bem a dimensão que sofrem aqueles que assumiram as caraterísticas que suas almas e desejos desejaram para si.

Conviver com as diferenças neste tempo de tanto desamor nos parecia difícil diante de tantos relatos de atrocidades praticadas contra homossexuais em razão de suas opções e ao ser alvo desta injusta exposição de alguém que nem sei quem é e que me atribuíram vivi na pele a tragédia que acomete tantos sofridos semelhantes que têm sido mortos pelo país e pelo mundo com requintes de crueldade.

Este episódio apenas solidifica nossa inserção na luta para fortalecimento dos direitos de todas as minorias excluídas do debate de reconhecimento de seus anseios, dos seus desejos de verem reconhecidos direitos aviltados.

Nada e coisa alguma mudará nosso roteiro de vida, nossa narrativa que, se não satisfaz aos machistas héteros homofóbicos, preenche nossa biografia de maneira a nos agradar perfeitamente bem, com alguns reparos, sempre há que fazê-los ao longo do percurso.

A adição de experiências amargas como estas que se nos provam que há muito para se buscar nesta luta constante para que a pauta referente a questão do respeito a dignidade humana seja preenchida em suas lacunas por visões mais progressistas que as que permeiam o conservadorismo nacional.

Obrigado a todos que se solidarizaram conosco neste episódio em que embora nada tivesse a ver conosco e com nenhum cidadão olimpiense foi amplamente divulgado pelas redes sociais, como se não houvesse nada mais importante no mundo a ser discutido que algo tão tolo, banal, medíocre, insignificante, como se a vida fosse e estivesse em sua essência instalada na sexualidade de alguém e não no respeito à privacidade, a individualidade e principalmente, a convivência respeitosa com as diferenças. 

 

Willian A. Zanolli é ar­­tista plástico, jornalista, estudante de Direito, pode ser lido no www.willianzanol­li.­blo­gs­pot.com e ouvido de quarta, quinta e sextas-feiras, das 11h30 às 13h­00 no jornal Cidade em Des­taque, na Rádio Cidade FM 98.7, e, aos domingos, no Sarau da Cidade, das 10h00 às 12h00, na mesma emissora de rádio. 

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