13 de outubro | 2012

Rastros de dor e de saudade

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“O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis”
Fernando Pessoa.

Willian A. Zanolli
O tempo às vezes para no porto para observar a paisagem, sentir com olhos de profunda humanidade os sulcos que vai cavando na alma da humanidade no correr lento dos dias.

O tempo encontra um tempo às vezes para divagar sobre as contradições em que está mergulhada a humanidade, para conversar com os descaminhos, os desencontros.

Vem nutrir de humanidade a falta de sensibilidade dos que não observam o conjunto necessário a continuidade da vida, este espetáculo, que quando baixa as cortinas para alguém deixa atrás de si um rastro de dor e de saudade.

Se este senhor mágico, proprietário dos nossos dias todos de calor e frio, de invernos e verões, se ausenta de si mesmo para repensar a história que constrói a sua volta, não seria eu, humilde campesino iletrado que não daria trato a bola depois deste período de marchas e contra marchas, idas e vindas na luta em favor do coletivo.

E vai ai a justificativa, que sempre os que estão no eixo contrário daquilo que pensamos, imaginam, divulgam, que no nosso pensar não entra a compreensão acerca do divergente, do pensamento contrário, entra sim.

Combater por entender que esta tendência conduziu a sociedade ao estado caótico e surreal em que se encontra, onde as pessoas não vendem só a sua pátria, vendem a si mesmo.

É terrível ter a percepção que grande parte da população perdeu a identificação de valores morais e atua no sentido de louvar exatamente o contrário daquilo que seria o ideal em uma democracia.
 

O crescendo de violência, a ausência do Estado em questões vitais à sobrevivência passou a ser encarado como algo natural, assim como a banalização da vida através dos excessos que estamos assistindo passaram a ser naturalizados, de tal maneira que matar e roubar é parte integrante do cotidiano.

Estamos vivenciando uma sociedade corrompida em seus costumes, e quem está a falar isto não é nenhum falso moralista, é alguém que nunca sonhou, nunca imaginou que o sonho de libertação da nossa sociedade ia culminar nesta onda de massacres e neste volume de corrupção nunca dantes visto e sonhado no país.

Parei, como para o tempo, para refletir sobre os versos e os adversos que vão compondo a letra da canção medíocre que o povo desta nação entregue as armas, ao vicio, banhada pelo sangue de sua juventude contaminada pelo submundo, que não consegue completar viva o seu ciclo histórico, e ouvi um “spirituals”.

Apesar da entonação religiosa o Spiritual dos Afro americanos tinha, principalmente, uma função política objetivando o fim da escravidão.

Nestas canções os abolicionistas e/ou escravos já libertos (a estes, normalmente, é atribuída a autoria de tais canções) inseriam códigos/expressões que mostravam aos escravos caminhos para sua fuga e, consequentemente, meios de localizá-los.

O canto com o qual os negros evocavam sua liberdade, traz a lembrança, neste momento, a que eles cantavam para enterrar seus mortos, pela esperança que enterramos todos os dias ao por do sol, e pensamos que vemos renascer como Fênix na iluminada aurora seguinte.

Assim é feita a vida, destes episódios todos, sobre o qual repensamos e pensamos, não por que acene com o fim do mundo, por que acena com a bandeira mais triste de todas, a que está empapada de lágrimas por tantos soldados ou vítimas de uma sociedade injusta que as jogaram no crime e na consequente morte, e aqueles inocentes atingidos pela violência, vítimas de um estado ausente.

Por estes choramos todos nós e choramos como chorou o Procurador naquele hospital por ver as condições sub-humanas como são tratados cidadãos que deram sua contribuição honesta para construir esta nação dominada por corruptos e bandidos de toda laia, que destruíram o que pode haver de mais importante na alma humana, a autoestima.

E mais não direi, que me falta o que penso que sobra, o tempo, que vai, que se esvai, que flui, fui.

Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.
Fernando Pessoa

Willian A. Zanolli é artista plástico e oferece este artigo a Helena de Souza Pereira e Renato Marrom pela condução ética e de alto nível com que conduziram sua campanha eleitoral, aproveita o ensejo para também elogiar o nível de campanha levado por João Batista Magalhães e José Roberto Bijotti …

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