11 de abril | 2021

Uma sociedade em frangalhos

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“Por mais que o passado de uma pessoa tenha sido
coroado de boas atitudes e de serviços prestados,
quando ela ultrapassa a linha do civilizatório para
flertar com a barbárie só há um remédio para que
retome a normalidade:Punição. Não há nada
de loucura neste gesto maldoso. Há, sim,
muito de estratégico e o desenrolar
dos fatos vão demonstrando isto”.

“Encontra-se oportunidade para fazer o mal cem vezes por
dia e para fazer o bem uma vez por ano”.

Voltaire.

 

Willian A. Zanolli

Este artigo começarei sendo grato a todos que, diante da tragédia que acometeu este jornal e deixou no ar uma ameaça de morte lançada ao prefeito municipal, se solidarizaram fraternalmente e mostraram desconforto em relação aos acontecimentos.

Destaco no meio de tantos a figura do sempre carinhoso e respeitado advogado Sargento Correia, que ligou para externar sua admiração pelo trabalho desenvolvido por nós e por este jornal.

A tantos que neste momento trágico tiveram uma palavra de carinho dirigida a minha pessoa e a família do José Antônio Arantes, que, após tantos anos de convívio, se integram aos meus laços de afetividade e respeito, o agradecimento pelo estímulo a continuar na luta.

Ao prefeito Fernando Cunha, que foi recepcionado com a informação de que conspiravam contra sua vida quando acometido por Covid 19.

Informado de que já se restabeleceu, desejo votos de saúde e que esteja preparado para os embates que o cargo exige.

E tomo como referência esta relação civilizada que nos é proporcionada por pessoas como o Sargento Correia, Fernando Cunha, e outros com os quais convergimos e divergimos, para dialogar com algo que tem assustado a sociedade brasileira.

Este incidente, em que um bombeiro, com 25 anos ou mais de trabalhos prestados à sociedade, sendo respeitado e elogiado por quem o conhecia, mostra uma parcela da sociedade brasileira que perdeu totalmente a noção de convivência pacífica, chega a ser chocante, pois como entender que alguém que atuou tantos anos buscando salvar vidas tenha atentado contra algumas e ameaçado outra.

Mais chocante ainda, fazendo uso de elementos que conhecia profissionalmente muito bem, a combustão, o incêndio, o fogo.

Qualquer mente mediana concluiria que o crime, em razão do profissionalismo na área da pessoa envolvida, por ser bombeiro, que o mesmo foi fria e estrategicamente planejado.

Qualquer alegação em contrário pode servir como tese defensiva, mas não encontrará crédito em quem tem informação básica e experiência de vida.

Evidente que aquele prédio abriga espaços para dois comércios e residência e que a intenção não foi de apenas assustar alguém.

É só assistir ao vídeo do incêndio para concluir que a ação continha elementos suficientes para convencimento de que a intenção era incendiar o prédio e em consequência matar quem lá estivesse abrigado.

Discutir isto é muito importante por se tratar de um bombeiro, por colocar a vida das pessoas em risco, mas, muito mais do que isto, importante é discutir o que pode haver por trás do ato.

Muitos estão se perguntando e eu também, sobre o que tiraria uma pessoa com 25 anos de carreira de sua zona de conforto e a jogaria na criminalidade de uma hora pra outra.

Há um crescente de radicalização que emergiu depois da eleição de Bolsonaro, uma lavagem cerebral gigantesca sendo levada a efeito nas redes sociais através de fake News que são disparadas aos milhões, principalmente pelo aplicativo WhatsApp.

Nada justifica o crime cometido que é imperdoável, mas joga luz sobre como pode a influência de uma liderança estimular pessoas a desenvolverem um ódio gigantesco pelas que divergem de seu pensamento ao ponto de desejar aniquilá-las.

Quem leu sobre fascismo e o Professor Ivair Ribeiro, que é especialista no assunto e que foi agredido pelo bombeiro, pode nos auxiliar nesta discussão se pretender, sabe das práticas violentas deste pessoal para implantar seus pensamentos.

Foi assim na Itália, Japão, Espanha, Portugal, Alemanha e em todos os países que conviveram com o nazismo e o fascismo e é assim nos que estão vivendo.

As pessoas comuns se sentem como participes e responsáveis pelo poder e cometem as maiores barbaridades, desde mandar pessoas para os campos de concentração, paredão de fuzilamento, a invasão do Capitólio.

O exemplo clássico vem da nação americana que, com um fascista negacionista no poder, registrava grandes números de casos de Covid 19 e hoje reverteu o quadro e a economia começa dar sinais de início de recuperação.

Os cidadãos que invadiram o Capitólio, assim como o bombeiro e os que podem estar por trás do ato ilegítimo cometido, responderão judicialmente e terão suas vidas modificadas pra pior.

Este fenômeno do ódio crescente não é um fenômeno localizado em Olímpia, esparramou-se por todo território nacional e a vida ficou perigosa demais para quem pensa e discorda dos que estão atrelados ao movimento que está no poder.

Quando se busca as redes sociais, chega a ser chocante que pessoas respeitadas e que se imaginava dotadas de caráter e seriedade estejam defendendo o ataque vil e cruel do bombeiro ao jornal e a ameaça à vida do prefeito.

É inconcebível que alguém possa interpretar como necessária, correta, humana, aceitável que alguém pense em acabar com a vida do proprietário do principal jornal da cidade e do primeiro mandatário como se viver em democracia fosse isto.

A sociedade chegou ao fundo do poço e está dividida em quem tem equilíbrio, amedrontado por quem quer a imposição do pensamento único, tolher a liberdade de expressão através da violência, da maldade.

Por mais que o passado de uma pessoa tenha sido coroado de boas atitudes e de serviços prestados, quando ela ultrapassa a linha do civilizatório para flertar com a barbárie só há um remédio para que retome a normalidade: Punição.

Não há nada de loucura neste gesto maldoso.

Há, sim, muito de estratégico e o desenrolar dos fatos vão demonstrando isto.

Esta não é a sociedade que queremos e nem a que desejamos viver, onde o mais violento cala o pensamento com a ameaça da morte para impor a negação da ciência e do conhecimento.

 

“Os homens erram, os grandes homens
confessam que erraram”.
Voltaire.

 

Willian A. Zanolli é Advogado, Artista Plástico e Jornalista.


 

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