03 de agosto | 2008

80% vêem festival distante do ideal de Sant’anna

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 Embora uma enquête deva ser considerada apenas uma amostragem sem nenhum comportamento científico, o que se depreende das repostas dos entrevistados desta semana pela reportagem desta Folha, é que os festivais do folclore têm deixado a desejar, principalmente, em relação aos ideais estabelecidos pelo idealizador e criador do evento, o folclorólogo José Sant’anna (foto). Para cerca de 80% os eventos realizados depois do falecimento do idealizador não correspondem aos critérios estabelecidos por ele há cerca de 50 anos atrás.

De acordo com o comerciante José Maria Magro, na época do professor o Fefol "era muito melhor". "O objetivo dele era esse (cultural) e hoje parece que mudou um pouco, se transformou um pouco em de comércio, vamos dizer assim". Para ele, embora preserve a organização atual, seria importante ter "pessoas mais integradas realmente ao folclore participando desse grupo".

A diferença de comportamento do evento também foi apontada pelo vigilante José Roberto Gonçalves. "Acho que está um pouco defasado e que falta mais incentivo, mais investimento. Acho que falta os políticos acompanharem e darem mais verbas e a cidade investir mais na festa".

Outro detalhe encontrado no desenrolar da enquête é em relação ao local de realização do Fefol. Depois de acontecendo nas praças centrais, indo depois para o ginásio de esportes por dois anos e, finalmente ao Recinto de Exposições e Atividades Folclóricas Professor José Sant’anna, é comum ouvir queixas da população por causa da mudança. "Antigamente tinha mais interesse, principalmente, quando era aqui na praça, parece que era melhor", diz Gonçalves.

A queixa da operadora de caixa Renata Messias da Silva, está relacionada ao modernismo que chegou ao evento nos últimos anos: "antes eu gostava mais e acho que foi a modernização que aconteceu. A antes era mais rústico, mais folclore mesmo, hoje é uma coisa mais moderna e mais clássica".

O resultado do que é considerada modernização não agrada também a vendedora Sônia Maria dos Santos de Souza. "Não corresponde de jeito nenhum porque o professor pensava muito no povão. Pode ver que até as danças mudaram. É outra coisa. A única coisa que tem ali é só o nome dele e nada mais", observou.

Já para a também vendedora Edna Miola Vizel ainda não há o que se falar em diferenças de propósito. Mesmo em relação ao seu interesse pelo evento não vê diferença. No entanto, ela reclama da falta de mais segurança durante o festival. "Acho que fica a desejar ainda na segurança", reforça.

Pensamento diferente em relação ao ideal tem o pintor Agenor Francisco dos Santos. "Não como era porque ele (Sant’anna) sempre estava ali. Não que eu esteja falando mal dos outros, mas o professor Santana … gostava muito quando era na praça", justifica.

Para o guarda Sebastião Donizete da Silva o evento sofreu pelo menos um pouco de modificações sem a presença do idealizador do Fefol. "O professor deixou a festa para continuar, mas sem ele há uma perda", afirma. Integrante de uma companhia de reis ele acrescenta: "para nós muda alguma coisa gostávamos muito do professor, mas vamos continuar o que ele deixou".

Embora todas as tentativas para organizar o evento sejam tentadas a cada ano, para o auxiliar de depósito Alex Irai Leme do Prado, não só não corresponde aos ideais do professor, como também piorou: "Está faltando um pouco mais de organização, tem que seguir os exemplos de outros eventos que tem em outras cidades".

Já para o segurança Gustavo Capelari, a semente plantada brotou e continua crescendo. "O festival se modificou bastante em alguns aspectos e algumas coisas foram deixadas de lado, mas a essência que o professor plantou aqui na cidade continua crescendo sim", afirma. Porém, ele também lembra dos festivais na praça: "gostava bastante do folclore de antigamente por causa do comércio externo".

A dona de casa Adriana Lemos, sente falta da presença do professor: "era o mestre e sabia o que ele estava fazendo. Lembro que na época dele o companheirismo da equipe do festival era muito maior. Hoje o pessoal se instala do jeito que dá e se vira".

Além disso, reclama também da falta de liberdade: "o ano retrasado foi vetada a apresentação de uma dança do Balé Folclórico de Manaus, porque a bailarina se apresentava com a parte de cima despida. Aquilo é cultura gente. Porque meia dúzia acha que é pudor, não pode? Esse povo não sabe o que é cultura".

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