22 de outubro | 2007

Uma mulher tenta suicídio a cada 8 dias

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 Com base na informação fornecida no início deste mês de outubro pela delegada Débora Abdala Nóbrega (foto), titular da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Olímpia, pode se depreender que a cada oito dias uma mulher tenta contra a própria vida no município.

Há cerca de 20 dias, segundo ela, já eram 44 as tentativas de suicídios de mulheres registradas pela DDM desde o dia 22 de setembro de 2006. Por outro lado, entre os anos de 2002 e 2007 foram registrados seis suicídios consumados.

Os motivos são os mais variados possíveis e, por muitas vezes difíceis até de serem detectados, mesmo porque o principal motivo alegado pelas sobreviventes das tentativas é a depressão que, com certeza, não surge do nada e pode ser motivada por vários fatores, inclusive por relacionamento íntimo ou mesmo por problemas financeiros.

No entanto, há diferenças fundamentais na forma de agir de um homem em relação à mulher, principalmente quando se trata de tentativa de tirar a vida. No caso do sexo masculino é praticamente certa a morte da pessoa que tenta contra a própria vida. "Geralmente os homens, quando tentam o suicídio, utilizam o método do enforcamento, o que leva a consumação do fato por se tratar de um recurso mais violento", explicou. No caso da mulher em muitas ocasiões, e na maioria delas, há possibilidades de evitar a fatalidade do ato praticado.

De acordo com a delegada, as mulheres usam medicamentos favorecendo que sejam socorridas. "Entendo que a pessoa que atenta contra a própria vida traz em seu pensamento a idéia de realmente suicidar, mas por circunstâncias alheias a vontade dela tal fato não ocorre", reforçou.

Nóbrega recorda que notou o problema quando chegou para assumir a DDM de Olímpia e percebeu que o número de ocorrência era muito elevado. Por isso teve interesse em ajudar essas vítimas, mas encontrou dificuldades nelas mesmas.

Dentro do trabalho que iniciou com a advogada Carmem Silvia Costa Ramos Tannuri, na época presidenta da Comissão da Mulher Advogada da OAB São Paulo, logo no início constatou que a ajuda pretendida não seria possível.

"Pois o primeiro passo seria o de intimar a vítima afim de reunirmos e elas mesmas se recusavam alegando os mais variados motivos. Fato lamentável, pois não somente mulheres com bastante representatividade na sociedade local iriam ajudar, mas também várias outras se propuseram a colaborar. Nossa intenção não seria saber os motivos pelos quais aquela vítima havia tentado o suicídio, mas sim ajudá-la no sentido de que tal fato não voltasse a ocorrer, bem como encaminhando-a para tratamentos e demais ajudas", comentou.

Maria da Penha

Embora não seja considerada via de regra, uma tentativa de suicídio de mulher pode até acabar por ser enquadrada na Lei Maria da Penha, que em 22 de setembro deste ano completou um ano de vigência.

"Levando-se em consideração as formas de violência previstas na Lei Maria da Penha, acredito que pode ser enquadrada, como, por exemplo, a violência psicológica que é aquela conduta que causa dano emocional e diminuição da auto-estima na vítima", explica a delegada.

Os procedimentos da lei, explica a delegada, não são aplicados nos casos de tentativa de suicídio porque com o fato elabora-se um boletim de ocorrência e posteriormente a vítima é ouvida e, geralmente, declaram terem praticado o ato por motivo de depressão e o boletim é arquivado.Um inquérito policial é instaurado apenas quando o suicídio for consumado, ocasião em que pode ser apurado se ocorreu instigação, indução ou mesmo auxílio de alguma outra pessoa para a prática do suicídio.

"Entendo que se durante a apuração do caso constatar que a vitima sofreu algum tipo de violência doméstica, lembrando que a violência não é apenas a física, e isso a levou ao suicídio aplica-se a Lei Maria da Penha", finalizou.

 

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