19 de fevereiro | 2017

A corrupção e seus tentáculos

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Do Conselho Editorial

Imaginar que a corrup­ção começou ontem e está inclusa em uma sigla partidária que dividiu opiniões no Brasil seria no mínimo de uma ingenuidade monstruosa.

Extraindo a falta de informação, a polarização, o desejo de assumir a bandeira de uma agremiação partidária e outras desculpas que por acaso povoem o desejo de cada um de inserir e tornar poderosas su­as escolhas políticas, religiosas, esportivas e outras, quando se têm princípios lógicos a escorar o debate o buraco é mais embaixo.

Se voltar a mente no início do descobrimento, que por si só já foi o início da fraude, uma frota contratada com dinheiro da coroa para ir a um determinado lugar que acabou em outro.

O dinheiro da coroa, pe­la lógica da arrecadação dos tributos teria a desti­na­ção de cuidar do reino, deduz-se daí que era de cer­ta maneira público, mes­­mo atendendo a interesses da classe dominante.

Em suma, a desorganização é antiga, vêm da fundação.

Descoberto, por acaso, a coroa, para povoar, mandou para cá as figuras “non gratas” por lá.

As capitanias hereditárias são um deboche a qualquer pretensão séria que se pretenda dar à formação histórica deste país, as bandeiras e os bandeirantes deveriam se chamar bandalheiras de bandoleiros de tão mercenárias e vis que foram em sua maioria.

Com este histórico caminhamos de golpes de corruptos a golpes de corruptos desde a deposição da monarquia até este tempo de Lava Jato.

E aí, de forma a jato, a nação começou seu processo de moralização, co­mo tudo, sempre de traz pra frente.

Regras gritantemente antijurídicas e inconstitu­cionais foram sendo colocadas como normais em tempo de prisões arbitrárias que contrariam parte do regramento jurídico e tratados internacionais que versam sobre o tema.

Como grande parte do brasileiro tem em suas entranhas vocações ditatoriais e bárbaras, estes absurdos foram aceitos como se justos e necessários para a restauração da ordem ins­titucional e ao combate intransigente da corrupção.

Não foi bem assim e não é bem assim e parece que os atuais donos do poder se aperceberam que colocaram uma camisa de força em si mesmo.

O Brasil, cujos empresários financiavam campanhas pelo caixa dois porque não queriam ver seus nomes vinculados a políticos e depois de escolhido o vencedor do pleito não se envergonhar de cobrar sua colaboração está aí, vivo, só adormecido.

Necessário lembrar, para não parecer tolice, que o dinheiro de caixa dois que não podia ser revelado, tinha e têm origem que também não podia e não pode ser revelada, senão, ao invés de acabar em pizza como antes, pode o doador acabar nas celas nada confortáveis de presídios pelo país afora.

Mudou-se a cara da nação, porém é necessário se fazer justiça ao fato de que os que pretendiam o golpe e se instalaram no poder não tem e não tinham nenhum desejo ou vontade de que as investigações prosperassem para além do território do partido que detinha o poder.

Como nem tudo sai como planejado o plano entornou o caldo e tudo indica que o caldo quente ameaça derramar sobre a cabeça dos provocadores.

Todo dia há uma tentativa de se amenizar ou de se acabar com as investigações e todo dia recuos a­contecem por conta das mídias alternativas e dos movimentos nas redes sociais.

O desgaste do atual governo indicando ministro para o STF ou advogado de investigado para o Ministério desocupado, a tentativa de leis anistiando caixa dois, colocar os que estão na linha suces­sória na mesma condição do presidente que não pode responder por atos praticados que são anteriores ao mandato, até o final do mesmo, e outras vão sendo motivo de recuo e desgaste.

Procuradores Gerais e fiscais gerais de onze (11) países assinaram acordo que estabelece a criação de equipes para investigar supostos crimes cometidos pela empreiteira Odebre­cht que tenham relação com a Lava Jato.

A declaração de Brasília sobre Cooperação Jurídica Internacional Contra a Corrupção foi assinada pelos representantes do Ministério Público dos seguintes países: Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Equador, México, Panamá, Peru, Portugal, República Dominicana e Venezuela.

Depreende-se deste acordo que a corrupção não é própria nem de um partido nem de um único país, a única coisa em que se pode, com certeza concordar é que ela destrói partidos, reduz golpes a pó e deixa atrás de si uma triste história de miséria e de falta de oportunidades, razão mais que suficiente para ser combatida, dest­ruída, doa a quem doer, não importando o partido, a bandeira, a ideologia, ou seja lá o que for.

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