15 de novembro | 2015

A tragédia vivida pelo povo brasileiro representada em Minas Gerais

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Do Conselho Editorial

Uma das representações  da tragédia ambiental e humana que vive o povo brasileiro, entregue a sua própria sorte, se faz representar no episódio dramático vivenciado pelo rompimento de uma barragem na cidade de Mariana, Minas Gerais.

Incrível como a mídia nacional, comprometida com interesses econômicos, minimiza toda e qualquer situação que em outros países teriam desfecho e tratamento de ações criminosas perpetradas contra a humanidade.

O que ocorreu é muitas vezes mais sério do que se tem noticiado, e não fossem as redes sociais não chegaria ao conhecimento de quem se interessa pelo universo um terço de um terço do que aconteceu por lá.

A crise que se vive neste país é muito mais séria do que a simples discussão acerca da corrupção que nos ronda desde 1500; a crise é de ordem moral e humana.

Jornais estampam manchetes todo dia acerca dos danos ambientais provocados pelo rompimento da barragem e alertam para o prejuízo econômico que a região terá, levando-se em consideração que o município atingido, Mariana, tinha como uma das principais fontes geradoras de emprego e pagadora de impostos exatamente a mineradora cuja barragem se rompeu.

Fora raras exceções, poucos se lembram do principal patrimônio que foi arrastado pela lama e jaz no fundo do rio, ou soterrado pelos caminhos por onde andou enquanto pulsou de alegria ou dor seu coração humano.

Muitos dos habitantes, simples trabalhadores da mineradora, moradores das cercanias, comerciantes, empresários do lugar, gente humilde que engordava um capado, ordenhava seu rebanho bovino pelas madrugadas, que esticava uma varinha no leito do rio a procura de piabas, piaparas, piaúçus, bagres, adormecem para sempre seus sonhos de futuro e suas esperanças de um tempo melhor em lugares que o que sobrou de seus familiares pode nunca nem ficar sabendo.

E, os homens, de mando e de mídia discutem a tragédia ambiental e contam nos dedos quantos e quantos serão necessários para se recuperar a natureza, e o homem que calejava as mãos do amanhecer ao último raio do sol se por, ou mais, jaz esquecido entre escombros como se nada fora de importante neste planeta em que as coisas passaram a ter mais importância que o ser.

Lógico que a degradação do meio ambiente, que as mortes aos peixes, aos animais, a flora, têm que ser levados a sério na discussão, pois também viviam e teriam que continuar tendo respeitado seu direito a vida sem que rondasse por perto a sombra sempre criminosa do capitalismo inconsequente e irresponsável que levou a este e outros acontecimentos trágicos e, pelo andar da carruagem, levará a outros.

Sim, levará, pois onde a presença humana ou a ausência desta presença provocada pela morte é tratada como se tivera pouca importância é de se concluir que nada mais pode ter.

Apenas para ficar em um exemplo dentre os muitos que poderiam ser citados, e que ocorreram em tempo não muito distante, nesta região, precisamente às margens do Rio Pardo, também estourou a barragem de uma usina que causou enorme dano ambiental ao rio, e a mídia explorou o tema por um bom período, depois disto, as coisas continuaram como antes, como se nada houvesse acontecido.

Ainda bem que na tragédia que envolveu o Rio Pardo não tirou a vida de ninguém, causou danos ambientais que levarão anos para que a natureza consiga se recuperar.

Diferentemente de Mariana que pessoas foram arrastadas com casas, móveis, carros, poesia, memória para todo o sempre, e muitos nem terão a oportunidade do cumprimento do ritual de despedida dos seus, pois se presume muitos corpos não serão encontrados.

Diante desta realidade é muito significativo observar a mídia desgastada, podre e porca do Brasil atuando como se a gravidade do que lá ocorreu não tivesse a dimensão que teve, um senador ex- candidato a presidência da república advertindo que não é hora de apontar culpados, como se a hora fosse nunca, ou que o culpado é o menos importante neste momento, sendo que não é.

O atual governador do Estado de Minas Gerais dirigindo-se à nação para falar da tragédia exatamente das instalações da mineradora como a poupá-la do incidente que causou.

E para pasmo geral a mineradora cuidando da preservação dos locais onde a tragédia aconteceu, sim, colocaram o bode para cuidar do galinheiro, e o prefeito da cidade preocupado com a queda de arrecadação do município cheio de dedos no que tange a falar de culpa e culpados pela tragédia.

Parece que não fora a presença do representante do Ministério Público se manifestar tocando na ferida e expondo fragilidades que podem ter conduzido ao desfecho dramático, a sensação que se tem, é que os culpados foram à cidade, por estar localizada onde se localizava e seus habitantes, além do rio que poderia correr em outros lugares que não ali.

Nada melhor para ilustrar o que foi escrito que o que foi publicado pela grande mídia, que segue abaixo.  

Os danos ambientais causados pela passagem da enxurrada de lama, provocada pelo rompimento de barragens da Samarco em Mariana foram drásticos, devem se estender por ao menos duas décadas, e, mesmo assim, a restauração total é tida como impossível segundo ambientalistas.

A lama “cimentou” o bioma e pode até ter causado a extinção de animais e plantas que só existiam ali —a natureza local morreu soterrada.

 ”Além dos minérios de ferro, a lama trouxe consigo esgoto, pesticidas e até agrotóxicos das terras por onde passou. Essas substâncias aceleram a produção de algas e bactérias, que rapidamente cobrirão as lagoas, formando um tapete verde que impede a fotossíntese dentro d’água. Se não há fotossíntese, não há oxigênio. Sem oxigênio os animais, vegetais e bactérias não têm chance de sobreviver”.

Não há, como bem se pode observar da leitura, nem menção da presença humana entre troncos, peixes, animais, no entanto, ao que se sabe, pelo que se divulgou pelas redes sociais, muitos destes invisíveis cidadãos que até outro dia balançavam em redes debaixo de árvores, faziam churrascos com a família nos finais de semana, ofereciam gotas de cachaça aos santos de sua preferência aos balcões dos botecos, rezavam nas novenas, cantavam canções de ninar para embalar netos e filhos, dormem, repousam, descansam como se anônimos fossem arrastados que foram pela inconsequência, irresponsabilidade e ganância humana.

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