04 de setembro | 2016

Censura, o caminho da intolerância

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Do Conselho Editorial

Não há nada pior nem mais abjeto do que se pretender tirar do outro o direito de manifestar sua opinião.

E esta abjeção se amplia quando a intenção é tentar não permitir a livre manifestação do pensamento para que se perpetuem as mesmas práticas políticas inconcebíveis.

Onde não há discordância não há arejamento das ideias, mais que isto, não se coloca luz sobre a nebulosidade que alguns espíritos tentam ocultar em razão de suas frágeis biografias, por conta de nódoas do passado e a convicção de poder repeti-las de forma impune e permanente se mantendo no poder.

Não há outra justificativa para o açodamento por parte de uma única candidatura ao desferir ataques às críticas de forma feroz através do judiciário como se nada pudesse ser dito acerca de si e de sua pretensão de governar a cidade.

Não há como concordar com exageros cometidos por quem quer que seja nas redes sociais ou nos meios de comunicação; toda e qualquer insinuação maldosa ou afirmação caluniosa, injuriosa ou difamatória deve ser alvo de investigação e se comprovada de punição da pessoa irresponsável.

Porém, “judicializar” uma campanha eleitoral em razão de picuinhas e devaneios totalitários e antidemocráticos é coisa imperdoável e sem sentido algum.

Parece que a justiça nada tem a fazer senão coagir e punir adversários políticos e a qualquer comentário mais “soft” já ameaçam levar a bola embora e terminar o jogo.

Ocorre que as coisas não são bem assim. Se não houver motivação que justifique a penalização, a justiça eleitoral não irá se comover com a fragilidade do candidato a ditador ofendido por picuinhas e fofoquinhas sem grandes intenções se não a de comunicar o desejo de participação no pleito através de opiniões toscas e sem sentido que, por si só, nem deveriam ser levadas em conta por quem se permite passar a ideia de seriedade.

Direito a recorrer a tutela do estado para resolver questões que se entende como possível lesão ao direito, todo mundo tem e não há como negar este direito; mas utilizá-lo de maneira a permitir o entendimento da pretensão de amordaçar a opinião adversa é por demais patético.

Chega um determinado momento que não resta outra alternativa senão a que conduz a ideia de que não há equilíbrio e nem racionalidade no pretendente ao cargo de mandatário ou de legislador da cidade, e que chegando lá a cidade transformar-se-à em um grande presídio onde os pronunciamentos pessoais terão de passar pelo crivo do todo poderoso para análise de conteúdo.

Vale notar que o Legislativo local já há algum tempo fez da censura prática comum, visto que há lá uma Tribuna Livre em que as pessoas têm que indicar o tema, o que irão falar quando por acaso desejarem fazer uso daquela Tribuna.

Despropósito maior não poderia haver em uma casa que se pretende seja do povo, ou que teria de representá-lo, e este absurdo dos absurdos ao que tudo indica, pelo grande número de representações levadas ao conhecimento da justiça eleitoral, pretendem que se estenda aos meios de comunicação e a internet, notadamente o facebook.

A taxa de insucesso das demandas, assim como a falta de razoabilidade das mesmas pode permitir ao eleitor perceber o despreparo dos pretendentes aos cargos e suas vocações autoritárias, prepotentes e desvin­culadas da democracia.

Um pouco mais de atenção e carinho em relação ao que é exagero e o que é permitido do ponto de vista legal não sobrecarregaria a justiça eleitoral e não passaria para o eleitorado esta sensação de ranços ditatoriais próprios de candidatos que ainda perpetuam os ideais coronelistas sem afinidade com a democracia.

A justiça tem mais o que fazer e não pode, e nem está a serviço daqueles que parecem desejar transformá-la, aos olhos da população, em um monstro perigoso e punitivo de opiniões água com açúcar que contrariam infantes sem amadurecimento para a disputa.

O certo seria crescer e amadurecer, conviver com os diferentes e com as diferenças de forma harmoniosa e equilibrada reservando-se no direito de buscar a salvaguarda legal em casos de real importância e que se supõem não podem ser resolvidos na base do diálogo ou da compreensão que opiniões não são metais que se fundem.

Passaram das medidas as tentativas que se demonstraram infrutíferas de amedrontamento das massas pelo meio judicial. Agora é hora de dar um pause e colocar seriedade nas discussões políticas.

Continuar assim, daqui a pouco termina o período eleitoral e o eleitor, ao invés de propostas e programas de governo, terá colecionado um número sem fim de investigações e representações que não deram em nada e o que era para ser campanha política se transformou em caso de policia.

Se bem que política neste país nos últimos tempos, diante de tantos escândalos, da demonstração de tanta falta de decência, é muito mais caso de polícia que de política.

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