09 de junho | 2013

Como ficará a imagem dos corruptos?

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Do Conselho Editorial

 Duas questões chamaram a observação dos detalhistas nestas últimas semanas. A primeira delas foi o anúncio de que a Folha de São Paulo demitirá em período próximo e curto cerca de 40 (quarenta) jornalistas. A outra da conta da movimentação promovida contra o aumento das tarifas do transporte público em várias cidades do país.

No Blog de Esmael Morais, interessante análise aponta para a ideia várias vezes debatida neste espaço de que as torres de papel da mídia tradicional estão caindo.

A informação livre em circulação pela internet, mídia que todos os números e pesquisas apontam como a de maior e mais rápida ascensão entre o público brasileiro, fustiga os alicerces nada sólidos daquela que já foi chamada “grande imprensa”.

Os custos de operação, as dificuldades logísticas e a falta de visão de presente e futuro dos líderes de negócios dos jornais e revistas embotadas na fixação pelo passado formam o conjunto responsável pela queda. Um processo acelerado pela miopia ideológica das famílias detentoras aplicada às linhas editoriais de cada veículo, todas elas convergentes a um conservadorismo pulverizado em praticamente todas as seções jornalísticas – Política, Economia, Cidades, Esportes etc. Um atraso que quebra a sincronia das rotativas com a visão de mundo mais ampla e plural do leitor atual. 

O destaque que chamava a discussão era a demissão de Danuza Leão colunista de elite da Folha, revelada nesta quinta-feira 6, é emblemática da situação de crise estrutural da mídia de papel. Em seus livros, Danuza sempre se apresentou como uma socialite cheia de bons conselhos a dar, mas, pouco a pouco, em seu espaço no diário da família Frias, foi empunhando a pá ideológica que escava o fosso sempre profundo que separa ricos de pobres, emergentes de quatrocentões. Foi perdendo, a cada golpe, atratividade de leitura, acumulando adversários entre os leitores, diminuindo, assim, pelas opiniões isoladas do resto do mundo.

Não sendo, como já relatado, a única a ser dispensada, a matéria dá a noção de distância da realidade que separa determinados “pensadores” daquilo que objetivamente está pensando a sociedade atual.

A Editora Abril inicia um processo de enxugamento de até 10% do seu pessoal, o Estadão segue a fila, as organizações Gobo também, e neste pacote se inclui o jornal Valor Econômico e a Record que dão mostras de ter que queimar gorduras se pretendem continuar de forma lucrativa no mercado.

Embora não se saiba o quanto a informação livre pela internet causa a devastação econômica destes antigos monopólios da comunicação é evidente que as estruturas arcaicas da mídia tradicional, que não acompanharam o avanço tecnológico e menosprezaram a busca pela notícia parece que trombou, bateu de frente com a nova opinião pública.

Tudo indica que a audiência da internet vai quebrando recordes dia a dia, pautando inclusive muitas vezes programas de TV, que discutem sucessos de anônimos, que são jogados na rede e se tornam virais. A saudável disseminação de informações por jornais, revistas tevês e blogs criados especialmente para este veículo de alta velocidade promove farta concorrência e acesso livre e ilimitado. Um ambiente de briga de mãos limpas, honestas, onde os “sem rotativa” e os “sem antena” passam a ter iguais condições de disputar o interesse do leitor, a atenção das fontes, o respeito do mercado publicitário e, sobretudo, adquirem influência no circuito que nasce com bases populares e alcança os formadores de opinião. Os tempos estão mudando. A mídia tradicional descobriu, na última hora, que o passado não mais é capaz de corrigir seus excessos corporativos, erros gerenciais e choques com uma nova e numerosa classe de leitores. Pagam pelo desastre comercial provocado pela soberba dos profissionais que ajudaram a construir cada uma dessas máquinas. É o capitalismo em estado bruto, mostrando sua velha e vincada face assustadora.

Hoje, o político corrupto que comprava a mídia e fazia inserir aquilo que era de interesse de seu grupo e não deixava que a grande maioria se manifestasse por dominar rádios, jornais e tevês está sendo julgado nas redes sociais com a verdade que acobertara.

Biografias que eram verdadeiros lixos estão sendo expostas, canalhas que se vendiam como pobres por comprarem com dinheiro sujo e desviado do erário o ocultamento de suas mazelas estão sendo mostrados como verdadeiramente eram e são.

Movimentos que não aconteciam por que não havia comunicação e nem como se comunicar com os interessados em se indignar contra injustiças cometidas pelo homem público estão acontecendo e os últimos acontecimentos demonstram isto quase claramente.

Se de um lado através das redes o povo vai às ruas buscar os seus direitos, de outro antigo monopólio, censor das vontades populares, que era a mídia dominada pelas grandes famílias começa a perder musculatura, a definhar por conta de seus excessos de arrogância, prepotência e alinhamento ao que havia de menos saudável na política nacional.

Para entender, pelo menos em parte este fenômeno é recomendável que se assista ao filme sobre a biografia da revolucionária Rosa de Luxemburgo, que leva um artigo para publicação e o editor lhe diz, como diria muitos outros ao longo dos anos, que não bastava ter opinião para publicá-las, era necessário ter também impressoras e concluía sua fala afirmando que opinião por opinião ele preferia imprimir a dele.

Não poderia falar isto hoje, já que todos podem expressar seu pensamento, colocá-los em discussão e a disposição de todos sem passar pelo crivo dos editores.

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