09 de outubro | 2016

Eleições no Brasil, não há nada de mais podre

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Do Conselho Editorial

As eleições no Brasil, pelo que se informa através dos meios de comunicações com informações obtidas da Justiça Eleitoral e através de outros meios, foram a repetição de todas as outras em termos de sujeira e podridão.

O que aconteceu no cenário local foi apenas vi­deo­tape da baixaria nacional, um “repeteco” que chocou os falsos moralistas de plantão que convivem há anos com esquemas e baixarias e fingem ruborização quando falam sobre.

Uma nação composta por muitos hipócritas é assim, Nelson Rodrigues quando alertava para o perigo dos medíocres ganharem por serem muitos, estava totalmente carregado de razão.

Hoje são maioria e dominam o cenário político nacional. Se antes eram raras exceções agora é qua­se caso de incluí-los na lista de preservação, tão raros.

Segundo o ministro que fala fora dos autos, Gilmar Mendes, do TSE, o número de mortos dependentes de bolsas famílias e de outros projetos sociais presentes nas prestações de conta de campanha é numeroso.

Isto dá bem a conta do quanto de vergonha e juízo têm os futuros gover­nantes das cidades brasileiras. Já trazem antes da assunção do mandato este comprometimento de desconfiança de sua integridade e do será capaz de urdir quando tiver as chaves do cofre nas mãos.

Afora as baixarias que cresceram de volume, tom e grosseria em razão do Watshap, Facebook e outros instrumentos dis­po­ni­bilizados pela internet, prevista neste mesmo espaço em editorial anterior as eleições, a disputa foi evidentemente entre o capital e o poder de compra.

Todos, com certeza, negarão que enfiaram a mão no bolso e transferiram capital à mão do futuro eleitor, e alguns terão razão visto que não tinham dinheiro para efetuar compra de votos e que, por iludidos, acreditaram que seus próprios nomes e a campanha anticorrupção os levariam ao poder.

O que voou de cesta básica entregues na surdina por caminhões espe­cia­lizados no serviço, requerimento ou vale gasolina pela permissão de cola­gem de adesivo no vidro do carro, foi coisa de literatura do surrealismo fantástico.

Garcia Marques perderia em imaginação para este povo na hora de inventar meios para burlar a justiça e corromper o leitor mostrando sua face corrupta e cara de pau dando show de interpretação digna dos piores atores canastrões dos dramalhões mexicanos.

Os miseráveis de sempre e a classe média falsa e nojenta que clama por limpeza na política participaram de vários churrascos juntos. Foi a promoção do “amigos” por um período, ou Dois de outubro e tudo acabado entre nós.

Avaliar que do ponto de vista moral esta eleição, no sentido geral e local, tenha sido um divisor de águas é no mínimo uma abstração insensata e carregada de irrealidade.

O que se viu foi o raio x de um país fracassado, afundado em escândalos, lama, sujeira, corrupção, muitas prisões todos os dias em múltiplas operações de muitos atores sociais, prefeitos, vereadores, ex-deputados, ex-senadores, ex-governadores, ex-ministros, juízes, e as eleições que se viu demonstra que a ideia de impunidade parece que permanece.

A única novidade mar­cante desta eleição foi, como previsto, o crescimento daqueles que não creem mais em políticos e se abstiveram de votar, anu­­lando, votando em branco, não comparecendo.

Nos editoriais e mesmo na Coluna dos Arantes, este jornal chamava a atenção para um dos livros que compõem a trilogia iniciada em A Caverna, de José Saramago, Ensaio Sobre a Lucidez, onde o povo de um determinado país não comparece as urnas no dia das eleições.

O fenômeno ocorre sem prévio aviso, sem manifestação, silenciosamente, no dia da votação sem que se saiba o porquê os eleitores não comparecem para votar.

Lógico que esta manifestação coloca em discussão as falhas do sistema e invoca por parte das autoridades uma preocupação em descobrir o que pode estar por trás do gesto.

O grande vencedor destas eleições em todo o Brasil pode ter sido o eleitor, se o sistema perceber que foi derrotado pela apatia, pela indiferença pela escolha da maneira como está em que se privilegia exatamente quem tem condições de comprar votos, seja através de caixa dois, justificando contas de campanha com be­ne­ficiários do Bolsa Família ou outra maneira ilícita.

E, percebendo, acreditando na possibilidade de que a ampliação desta insatisfação transforme o atual cenário criando instrumentos mais efetivos de fiscalização e fazendo, enfim a tão necessária reforma política.

Grande parte dos eleitos perderam as eleições para abstenções, brancos e nulos e, possivelmente, se não houvesse, como houve a compra escancarada e vergonhosa de votos, possivelmente poucos teriam ido votar e o “O Ensaio Sobre a Lucidez” sairia do plano da literatura para a realidade em uma país onde o combate a corrupção é muito mais virtual que real.

A continuar assim, se nada mudar, nossos legisladores terão que criar lei instituindo o valor do voto para estimular aquele que foi um dia cidadão compareça no dia das eleições, eliminando das urnas as teclas que possibilitam anular o voto e também a que possibilita votar em Branco.

Como diria Stanislaw Ponte Preta – Ou restaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos!

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