28 de junho | 2020

Em que lugar do espaço e tempo alguns brasileiros se abandonaram

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“Enquanto se buscam razões e
motivações abrem-se túmulos,
fabricam-se caixões e se ora em
casa no sétimo dia”.

 

Conselho Editorial

Séculos e séculos bailando nas águas calmas e pacíficas da solidariedade, fra­ternidade, amizade, amo­ro­sidade, após um vendaval de ódio que correu o mun­do, soltou-se do fundo do oceano do espírito e veio assombrar a terra bra­silis e todo ser que pulsa e vibra sobre seu território.

Não há um cão pulguen­to que seja, um gato envelhecido de miar sobre telhados e cumeeiras, um pé de angico, cachoeira, índio, negro, mulher, qui­lom­bola, lgbtq+ e a pró­pria terra que virou plana, que se sinta salvo de ataque de humanoides.

Não se sabe se o brasileiro era desta maneira e o­cul­­tava muito bem ou se esta era sua vontade reprimida, se estes eram os demônios que gritavam dentro deles temerosos pela luz do sol.   

Lá no fundo do oceano de suas paixões e ódios habitavam monstros que sub­mergiram e vieram tentar afogar todo e qualquer sentimento de humanidade que se possa sentir o um pelo outro.

Sobra de naufrágios, esqueletos de piratas saqueiam o que pode haver de cultura e poesia, destroçam a ciência, abominam o que pode haver de educação e zombam de qualquer conhecimento que sua condição de zumbi não consegue interpretar.

E estes mortos vivos estimulam a que tantos trouxas e tontos se sacrifiquem, se imolem no altar da besta fera que escolheram para liderar o exército de criminosos e insensatos que buscam tumbas como se fossem formigas atraídas pelo mel.  

Não há nada nem coisa alguma que possa mudar o andar de robô que busca, imagina-se que sem saber, a direção do fim, circulando por lugares infectados sem ao menos aperceber que podem estar fazendo a última viagem.

Não são poucos, são milhares e morrem como moscas em volta das lâmpadas, não havendo discurso ou o que quer que seja, que os convença que a hora é de apagar a lâmpada e esperar que se faça a luz naturalmente.

Ninguém sabe e pode ser que se suponha algum dia o que pode ter ocorrido para que tantas pessoas neguem de forma tão incoerente e absurda o que acontece todos os dias com milhares de pessoas.

Para cada despedida uma desculpa das mais loucas possíveis, e como se fora um grande manicômio, a cada dia se é bombardeado de tanta inver­dade que se chega a pensar que a mentira, a pós-verdade, será o que irá vigorar no futuro.

Desde sempre houve entre os seres humanos uma certa resistência a mentira, mas atualmente já se percebe o aumento crescente do cinismo de alguns que começaram a confessar publicamente ter noção de que se trata de inverdade, mas esparrama ou divulga para destruir a imagem de quem não gosta.

Estas pessoas, que não são poucas, pareciam não existir até bem pouco tempo. O ódio aliado à estupidez parece ser coisa recente e chocante para quem tem senso crítico.

Tudo parece sonho pra quem está desperto, atento e lúcido.

Parece uma viagem em alto mar onde se observa ondas violentas e se tem a esperança de que a embarcação vai chegar à praia, que tem bote e colete salva-vidas pra todos e que a tormenta vai passar.  

Poderia ser assim, só que não é assim e se percebe que o barco vai afundar quando todos correm para a proa ou para a popa, pra bombordo ou estibordo.

Todos correndo em uma mesma direção é certeza de afundamento e é o que parece ocorrer com os brasileiros, que se tem a sensação de que não existiam, e saíram de algum lugar que este editorial presume despregado de raízes históricas que estavam grudadas ao lodo marítimo.

Ou após um vendaval de ódio que correu o mundo soltou-se do fundo do oceano do espírito e veio assombrar a terra brasilis e todo ser que pulsa e vibra sobre seu território.

Sabe-se, há uma certeza absoluta que em algum lugar, espaço e tempo alguns brasileiros se aban­donaram. Não se sabe exatamente a razão nem o porquê.

Enquanto se buscam razões e motivações abrem-se túmulos, fabricam-se caixões e se ora em casa no sétimo dia.

E o navio fantasma da insensatez percorre o oceano não tão pacífico onde boiam almas em desencanto que parecem ter se despregado das restingas, dos estolhos.

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