31 de dezembro | 2017
Ivo de Souza, as pessoas não morrem, ficam encantadas
“Como o mais fino cristal e a mais nobre porcelana em mil pedaços se estilhaçam (quando caem ao chão…) Nós também (folhas de outono, rosas efêmeras, cristal e porcelana …) cairemos e nos quebraremos um dia (e profundamente dormiremos…). Ivo de Souza
Do Conselho Editorial
É hábito se dizer nestes momentos de dor e tristeza profunda, quando alguém se despede do convívio de todos por ter expirado seu período na terra, que o que foi pessoa transformou-se em estrela e foi brilhar noutras galáxias.
Que o mundo ficou menor, que a importância que se dá às coisas terão valor outro com perda tão significativa e inúmeras frases vão tentar dar sentido ao que deixou de ser finda a história de quem se foi.
Com o escritor, artista plástico, professor e colaborador deste jornal, Ivo de Souza, não poderia ser e não é diferente. A diferença, se houver, reside na história admirável de respeito que sua sabedoria obteve junto à comunidade acadêmica em razão de seus múltiplos predicados desenvolvidos com sensibilidade e maestria.
O conjunto de sua obra poética encanta exatamente pela precisão que impunha as palavras, na arte pictórica seus abstracionismos cativavam pela textura, cor e temas, sua mostra fotográfica, a última que realizou, encantou por mostrar belezas várias de seu cotidiano: flores de sua casa.
E sua obra notável, entre tantas que fazia com que se notabilizasse na sociedade era seu dom de lidar com as diferenças com sabedoria, paciência, tolerância.
Professor, era amado e querido por seus pares e alunos, destacando-se de suas aulas e intervenções pedagógicas, conhecimento profundo e intimidade com a matéria que abordava.
Na política, embora sempre reservado, gentil e cavalheiro, se posicionava de forma contundente e segura, desempenhando papel de liderança respeitada e seguida por seus pares por conta de sua racionalidade onde não cabia excessos, retaliações, revanches ou radicalismos.
A sua partida repentina surpreendeu aos muitos que o respeitavam, deixando alguns perplexos e outros inconformados por ser tão rápida sua estada por aqui.
Até outro dia, nem tão longínquo, os leitores deste semanário desfrutaram, como desfrutaram ao longo dos anos, a Coluna do Ivo, que tinha, na humilde opinião do editor deste jornal o condão de transmitir um panorama geral do que ocorria no país e na nossa cidade.
Muitas vezes, quando algum tema era interpretado pelo professor e colaborador do jornal como relevante para ser debatido de forma exclusiva e mais profunda, em razão disto, enviava à redação artigos exclusivos que eram publicados por este jornal.
O jornal perdeu um colaborador, os funcionários, colaboradores, editor e jornalista perdeu um amigo admirado pelas qualidades morais e pela bagagem cultural.
Olímpia, sem exageros, perde mais que um simples cidadão, perde um símbolo significativo, um representante legítimo de sua herança cultural, talentoso, dinâmico, conhecedor do que se propunha discutir e o fazia com clareza, transparência e conceitos acadêmicos lógicos e definidos.
Sem exagerar, ou propor comparações, em tese, a morte de Ivo de Souza, guardadas as proporções e levando-se em consideração os textos poéticos que ilustram o início e o final do editorial, extraídos do livro de sua lavra “Poemas estrelas no chão…” lembram um pouco a morte de João Guimarães Rosa, três dias após tomar posse na Academia Brasileira de Letras e em seu discurso ter afirmado que “As pessoas não morrem, ficam encantadas…a gente morre é pra provar que viveu.”.
E fora o país surpreendido três dias após com a notícia de sua morte como fora surpreendida Olímpia com a triste notícia de que o querido professor Ivo de Souza, a partir de então, morará na alma e na saudade de cada um que o admirava, mas não estará mais por aqui. Virou estrela e foi brilhar em outras constelações.
Parodiando Guimarães: “Eu atravesso as coisas – e no meio da travessia não vejo! – só estava era entretido na ideia dos lugares de saída e de chegada. … Viver não é muito perigoso?”
Rememorando Ivo de Souza: “Aprendi lições de chegar e de partir. Aprendi lições de presença e de ausência (lições de viver e lições de morrer!)”
“Sem mais para o momento” peço, saudoso, tua benção e beijo-te (emocionado) as laboriosas mãos delicadas, beijo-te o coração, pleno de amor materno! Para confessar o óbvio: sou quase nada sem ti! é que te escrevo (mas disto sempre soubeste)”.
Ivo de Souza.
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