20 de setembro | 2020

Memorial dos mortos pela Covid: homenagem ou demagogia política?

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“Na visão destas pessoas manter vivos outros
concidadãos é um gesto mais humano e
muitas vezes mais necessário do que
perpetuar a memória de um nome de
alguém que não mais existe no plano
real em uma lápide fria”.

Do Conselho Editorial

O prefeito Fernando Cunha postou nas redes sociais que pretende construir em frente ao cemitério local, um Memorial em homenagem as vidas que foram perdidas pelo Covid 19.

No início de uma corrida eleitoral em que Cunha é candidato à reeleição, o anúncio para os que pensam além do próprio umbigo ou que não bajulam o prefeito por ser penduricalho no poder, pegou muito mal.

Lógico que elogiar ações que trazem benefício à população mesmo que na área do respeito ao sentimento de perda de um ente querido é ação das mais humanizadas possíveis e seu anúncio deveria ser celebrado e não contestado.

Ocorre que um Memo­rial não trará de volta as 50 pessoas mortas pelo Covid, muitas em razão dos atos de irresponsabili­dade dos governantes e no caso presente não há como negar que a indecisão de Cunha abrindo e fechando comércio sem regulamentar com clareza e não levando a efeito uma fiscalização eficiente pode ter sido responsável por algumas delas.

Memoriais, em que pese a importância por manter viva a memória de acontecimentos para que se apren­da com eles e não se repitam, para a maioria imediatista do povo brasileiro que não cultiva sua própria história, soa mais como algo inútil que outra coisa.

Infelizmente é esta a visão de grande parte da população e os poucos que sabem da importância do Memorial e da homenagem, demonstram acreditar que o momento escolhido para o anúncio da obra foi muito infeliz.

Neste momento de campanha eleitoral e que se empilham mortos, que a tragédia ainda está em andamento e que ninguém sabe qual será a extensão do drama, anunciar uma homenagem aos que se foram soa como não ter memória alguma em relação aos que ainda serão vitimados pela doença.

Se houvesse uma estabilidade no quadro, a sociedade estivesse pacificada e retomado a normalidade de sua vida de forma plena e tranquila e, principalmente, não fosse o momento em que disputa uma reeleição, tudo bem, seria acolhido como um gesto de nobreza e de lembrança necessário.

Neste momento eleitoral o que deveria ser para amenizar a dor dos familiares daqueles que morreram passa a sensação de demagogia explicita e a cruel ideia para alguns, da mórbida visão de se desejar transformar de forma indireta e subjetiva em cabos eleitorais os membros das famílias que, não observando a utilização do trágico, ficarão gratos ao evento “necropolítico”.

A obrigação de manter vivas as pessoas, de lhes conferir atendimento em saúde com qualidade, é do poder público que em muitos lugares não cumpriu seu papel como devia.

Em Olímpia, embora tenha tido muitos acertos, a gestão Cunha que parece nem contar com um Secretário de Saúde atuante e real, cometeu deslizes também e o anúncio do Memorial antes do início da campanha eleitoral pode ser entendido como um deles.

Muitos interpretarão que os recursos gastos poderiam ter sido remetidos ao combate da pandemia para salvar vidas.

Na visão destas pessoas manter vivos outros concidadãos é um gesto mais humano e muitas vezes mais necessário do que perpetuar a memória de um nome de alguém que não mais existe no plano real em uma lápide fria.

Ocorre que a corrida pelos votos às vezes faz com que as pessoas percam o bom senso, noção de realidade, e esqueçam que a solidariedade maior de todas é manter vivo quem vivo está.

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