14 de setembro | 2014

Muito ajuda quem não atrapalha

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Do Conselho Editorial

Geralmente o poder público é como sugeria Hobbes, no Leviatã, se referindo ao Estado, um monstro enorme que se arrasta com dificuldade nas profundezas.

Esta falta de mobilidade se dá exatamente pelo excesso de burocracia, inchaço da máquina e desejo de se colocar acima de todos os normais pretendendo para si sempre a última palavra sobre tudo que ocorre na sociedade.

E saindo da filosofia e entrando na literatura tudo vira país dos patriarcas retratado no livro de Gabriel Garcia Marques, “O outono do Patriarca”, onde todo cidadão para fazer o quer que fosse tinha de pedir autorização ao ditador.

E ai até para cantar o galo tem que pedir licença como fala a letra da canção de Chico Buarque, por que o autoritário cria sistemas de fiscalização tão rígidos que nada passa despercebido de seu controle.

Os ditadores, os tiranos, são eficientes nesta dinâmica de sufocar a sociedade, começam por sufocar os canais de comunicação com o povo, e só tendo eles direito a voz na mídia que eles corrompem, os que divergem passam a ser alvos de suas constantes campanhas de intimidação e desgaste moral que ou acabam mudando do país ou se isolam no anonimato.

Não restando quem se oponha administram a mediocridade e a insignificância, já que são ótimos em corromper e anular os cidadãos, são péssimos, no entanto, em governar.

Não havendo aptidão e nem capacidade para gerir e administrar em prol do bem comum vão alimentando o pão com ovo de sempre e acreditando na impossibilidade de que o número de gente honesta possa vir um dia ser maior que o número de venais dispostos a se vender a troco de banana.

E desta maneira a sociedade se anula, enquanto a maioria daqueles que um cargo, um contrato com o Estado, uma promessa de emprego, uma licitação dirigida ou uma possível ajuda na próxima eleição se sentem satisfeitos com o reino dos mafiosos.

E não há no céu, no inferno ou na terra, ser santo ou demônio, ou cidadão que faça com que os que levam vantagem em detrimento do descaso e do abandono das coisas públicas, vejam, entendam ou interpretem que a república do roubo beneficia poucos em detrimento de muitos.

Sim, é a visão do lixão onde o cheiro de podre e a visão catastrófica não contrastam com o olhar humano mais exigente, com a felicidade que os urubus demonstram no seu vôo rasante ao deparar com tanta carniça.

Esta sabida ineficiência e podridão aliada a maioria dos perversos e pervertidos homens públicos não deveria se imiscuir onde não é chamada para embaralhar processos que sem a presença deles flui de forma organizada e sem muitas dificuldades.

Este seria o grande gesto dos incompetentes, não tentar se intrometer naquilo que está dando certo, ou então, não prometer aquilo que não podem e não vão cumprir.

Seria uma contribuição ótima não atrapalhar, continuar a tomar conta do cofre, pois em terra fértil de ladrões há que se ter um olho no ladrão e outro no cofre, não se pode esquecer que Ali Babá conseguiu, sem ser ladrão, driblar quarenta ladrões.

Imaginem o que pode fazer um monte de ladrões, como era o caso da quadrilha de Ali Babá, o estrago que eles podem fazer quando abrirem a porta do cofre.

Assim sendo, que os incompetentes, irresponsáveis, que nada fazem a não ser inventar histórias para boi dormir, que cuidem do cofre com zelo e deixem de encher o saco de cristal de quem quer fazer alguma coisa de útil.

Afinal, muito ajuda quem não atrapalha.

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