13 de agosto | 2012

O ladrão, o ditador, e o dinheiro público

Compartilhe:

Do Conselho Editorial
As pessoas, senso comum, maioria, sem generalizar, geralmente não conseguem perceber com clareza a razão pela qual o ladrão do dinheiro público, quando investido de poder, faz uso de esquemas ditatoriais.

 

É algo muito simples e decifrável que a vida moderna, onde tudo é pasteurizado ao extremo, até as informações, por obrigar o cidadão a se ver azul verde ou cor de abóbora para cumprir compromissos econômicos que o sistema capitalista vai criando, que a pessoa atenta aos seus problemas e desatenta da questão coletiva, não busca perceber.

A correria para pagar os impostos que são altíssimos, a conta de água, taxa de lixo, cartão de crédito, supermercado, aluguel, prestação da casa própria, carro novo, faz com que se trabalhe cada vez mais e a pensar menos e tudo isto vai obrigando a maioria sem tempo a consumir matérias mastigadas que não entram no epicentro do problema.

Razão mais que suficiente para que o político, no Brasil, geralmente oriundo da parte da população, em sua maioria, menos qualificada do ponto de vista ético e moral, faça uso inadequado desta situação em que não sobra tempo nem para resolver os próprio problemas, para pensar em si mesmo, quanto mais buscar tempo para se ater aos problemas que envolvem a sociedade.

Lógico, que do ponto de vista histórico, está evidente, pelos enunciados e pelos estudiosos que se preocuparam com a questão, que há outras variantes nas explicações sobre o alheamento do brasileiro no relativo às posições políticas que conduzem a corrupção. Entre elas, a alma cordial que, traduzida, se transforma em submissão; os séculos de dominação por sistemas castradores e militaristas; a educação discutível e o padrão cultural abaixo da média, que permitem a compreensão do universo que envolve a discussão acerca de cidadania exercida de forma plena.

No entanto, o que se pretende, como de início foi anunciado, é trazer à luz do debate o porquê administradores que corrompem tudo a sua volta, quando estão no poder, se cercam de cuidados muito especiais para que a população, principalmente a melhor informada, não tenha acesso ao que verdadeiramente ocorre no centro nervoso do poder.
 

Inicialmente se faz necessário abordar a convicção criminosa e bandida que domina a seara política e que publicamente assume que só se consegue eleger neste país a custa de muito dinheiro, o que denuncia um sistema fraudulento evidentemente claro em que as duas pontas do jogo, o candidato e o eleitor, na sua maioria das vezes, estão predispostas a compra e a venda do voto.

Há exceções a esta regra, que são raras, tanto que são insuficientes para que não se diga que o processo eleitoral brasileiro não está e sempre esteve contaminado pelo vírus da corrupção ativa e passiva.
 

Os que não se vendem por botinas e dentaduras, consulta médica, remédios e cesta básica, conta de água e luz, podem não resistir a novas tendências do mercado de compra e venda do voto: celulares, tablets, laptops, televisores, micro-ondas, adicionemos a isto as promessas de emprego.
 

Neste auto da barca do inferno cuja moralidade é semelhante a que Gil Vicente ironizava no seu texto, o segmento religioso mesmo que postulando dos púlpitos a moralização da vida pública, não se nega a receber contribuições de políticos para reformas emergenciais, doações para festinhas particulares, e prendas para bingos e quermesses, cuja paga é o compromisso de incorporar as ovelhas no rebanho votante dos que praticam o esbulho clandestino de verbas públicas.
 

Eleito, seja a que cargo for, este investimento, que o eleitorado inicialmente finge pensar, por conveniência ou para aplacar a consciência, tenha vindo dos bolsos do candidato, a este bolso certamente deverá retornar, com juros e correção monetária.
 

Isto mesmo, aquele que foi eleito para a autoridade, passa a maioria das vezes a apenas ser um bandido, um ladrão, com investidura em um cargo que o eleva a condição de autoridade.
 

Pode parecer louco e doentio este raciocínio aos que estão postulando cargos neste momento, porém é até inconveniente alertar para o que é sabidamente conhecido e registrado na história brasileira, a ideia de um povo corrompido que geralmente opta pelos igualmente corruptos para representá-los.
 

Chegando ao poder, eles inflam a máquina pública com cargos comissionados e outros adereços como estagiários, dividem salários na famosa metadinha, fraudam licitações, enriquecem a custa do erário e fazem caixa dois para ter dividendos que permita comprar eleitores na eleição futura de forma a garantir a perpetuação do sistema viciado.
 

Para isto, em estando no poder, utilizam de todas as artimanhas e possibilidades legais para que não haja transparência.
 

Esta corrente totalitária e ditatorial envida todos os esforços que a truculência permite para que suas mazelas não sejam publicamente divulgadas, e se rebelam como é o caso recente registrado em vários setores, contra a implantação de leis que obrigue o fornecimento de informações.
 

Trocando em miúdos, tentam com todo esforço do planeta, que documentos comprometedores não venham a público por que isto poderá render dividendos negativos a pretensão de manutenção no poder.
 

Não que isto influenciará ou não na idéia de moralização da coisa pública, há uma corrente do povo brasileiro que é adepta do rouba mais faz e esta corrente que não é pequena, por mais que finja indignação, ou faça firulas mentirosas, no fundo, por que gosta de se vender, é adepta de ditadores, ladrões do dinheiro público.

Compartilhe:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do iFolha; a responsabilidade é do autor da mensagem.

Você deve se logar no site para enviar um comentário. Clique aqui e faça o login!

Ainda não tem nenhum comentário para esse post. Seja o primeiro a comentar!

Mais lidas