23 de junho | 2013

O passe do brasileiro sempre foi livre

Compartilhe:

Do Conselho Editorial

 Ao contrário do que muitos possam imaginar, o passe deste povo, composto de negros, brancos, amarelos, colonizados, colonizadores, nunca pertenceu a time, partido ou religião alguma.

Embora a grande maioria traga dentro da alma suas convicções religiosas, ou atéias, suas preferências futebolísticas ou indiferenças pelo futebol, paixão por este ou aquele partido, esta ou aquela ideologia de direita, centro ou esquerda, nada que extrapole o plano das racionalidades.

No conjunto, e alguns devem estar entendendo como generalização o pensamento expressado acima, a maioria do povo brasileiro é avesso ao fundamentalismo, ao radicalismo, no que tange as suas convicções.

Geralmente é pacifico, ordeiro, passivo e conformado, não tendo vínculos que possa produzir extremos, em relação às posições que geralmente adota na vida social e pública.

O brasileiro sempre se revelou adepto do jeitinho não tendo por esta razão vínculos extremamente fixados nas instituições e nas idéias que geralmente são por elas ventiladas.

É um jogador com cuja habilidade pode se contar durante os noventa minutos do jogo, não significando, porém que veste a camisa do time com o amor que revela a torcida, muito pelo contrário, está, maioria das vezes, desejando ser observado por times cujo resultado financeiro seja mais favorável a sua carteira.

E sendo desta forma desde 1500, estes atletas nacionais, desta metafórica pátria das chuteiras, sempre foram conduzidos pelas mãos de ineficientes treinadores, de cartolas mal intencionados que vendiam o resultado do jogo, escalavam pernas de pau, corrompiam os campeonatos.

Agora, porém, com o coração uniformizado de tons verdes e amarelos adentraram o gramado da nação na forma de uma multicolorida juventude se rebelando inicialmente contra o valor pago pela passagem do transporte coletivo das grandes capitais.

E outras e outras conexas e desconexas proposições foram sendo colocadas no gramado das discussões sociais e que estavam como velhas chuteiras esperando a hora de ser vestidas e revestidas de caráter cívico duradouro.

Nada mais reconfortante do que observar de crianças que começam a interpretar o que poderá a vir a ser o mundo em que, com certeza, viverá a experimentados cidadãos cujos cabelos brancos evidenciam sinais de início de despedida do país, cuja vontade de mudança não conseguiu impor, se irmanando para que as coisas se dêem enfim e finalmente.

E todos, grandes atletas do civismo nacional, foram para as ruas que se transformaram em grandes Morumbis, Itaquerões, Maracanãs, onde rolou redonda a bola da vez que clamava para além do passe livre, diminuição do aumento das tarifas de ônibus, pelo final da corrupção, Pec 37, investimento em Educação e Saúde e, pasmem, contra o superfaturamento nas construções do Estádios da realização da Copa das Confederações e da Copa do Mundo.

E ai, ficou boquiaberto o planeta, pois mesmo que não se ligue, ou amarre, ou entusiasme com alguma coisa ao ponto de chegar ao máximo do máximo do radicalismo, os atletas a que se refere o texto, o povo brasileiro, é tido e reconhecido como apaixonado pelo futebol.

E ao ir para as ruas, de forma inédita desde 1500, buscar seus direitos, cansado de cumprir deveres, incluíram na pauta de reivindicações a apuração dos superfaturamentos nos campos de futebol, por onde anos e anos a fio levou sua alienação e seu conformismo para ser domado pelos autoritários, ditadores e corruptos que ora suas chuteiras providas de cravos patrióticos quer expelir da vida pública.

Há que se louvar, parabenizar, toda movimentação bem sucedida que ocorreu pelo país afora, mesmo onde por conta de estranhos ao movimento, tumultuadores de sempre, oportunistas e vândalos ouve a tentativa de ofuscar a beleza deste jogo clássico de um povo contra centenárias práticas reprováveis.

O placar até agora foi extremamente favorável ao povo que teve, ao que tudo indica, algumas demandas atendidas e outras observadas pelo ausente poder público que começa a perceber que é passada da hora de escalar gente séria para o comando dos municípios, dos estados, e da federação.

Ficou muito claro pelo placar apontado pelas ruas, pelo eco de golllll que saiu da voz dos que estavam na arquibandas, que foi para o centro do gramado, que é necessária e urgente a mudança de práticas, senão volta o povo, e como diria a sabedoria popular, eles são os donos da bola e se levam a bola embora, não tem jogo.

Ou, se resolvem jogar, como resolveram, vai sobrar banco de reserva para muito técnico e para muito cartola.Por enquanto foi só o primeiro tempo de uma grande partida do início de um grande campeonato, cuja taça em disputa é a construção de uma nação.

 

Compartilhe:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do iFolha; a responsabilidade é do autor da mensagem.

Você deve se logar no site para enviar um comentário. Clique aqui e faça o login!

Ainda não tem nenhum comentário para esse post. Seja o primeiro a comentar!

Mais lidas