12 de junho | 2016

Olímpia, de ontem, de hoje e a que se pretende para sempre

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Do conselho editorial

Olímpia, por mais ou por menos que se queira, de forma alguma é ou voltará a ser a cidade que já foi um dia.

Como tudo, mesmo que de forma imperceptível, as coisas e a própria humanidade das coisas vão mudando em sua essência.

Há mudanças nos seres racionais e irracionais que não são perceptíveis a olhos nus, mudanças internas, e outras, externas, facilmente detectáveis.

No caso de bichos, principalmente os domésticos, pode se notar mudança de pelagem ou de comportamento, além de outras, dependendo da característica de cada animal.

No ser humano, calvície, tonalidade dos cabelos, pés de galinha, obesidade, às vezes a própria vestimenta que muda suas características em função ou por conta da profissão adotada.

No ser humano, como o nome já traz em si o símbolo da humanidade, o que muda é a recepção a novas mensagens, que torna o ser mais introspectivo ou menos, sociável, ranheta, gentil, generoso, poético, insensível, politizado, alienado e assim por diante.

As pedras mudam, acrescentam outros materiais a si e vão se compondo, como vai se compondo através dos milênios e acrescentando material a sua composição todos os elementos existentes no planeta.

Ninguém se banha duas vezes na mesma água do mesmo rio, acrescente-se ai ninguém ou coisa alguma, a ideia do estático não combina com o desejo de evolução da humanidade.

Não seria diferente com as cidades. Italo Calvino, no livro “As Cidades Invisíveis”, de forma ficcional, através de Marco Polo, vai narrando ao conquistador Kublai Khan como Sherazade, no conto das Mil e uma noites, a narrativa de cada lugar de um infinito império.

De uma cidade diz o veneziano, aproveitamos “a resposta que dá as nossas perguntas” como as dúvidas do soberano nunca cessam, para o viajante inexiste descanso.

Movido pela compulsão por saber sempre mais, o imperador dos tártaros, o ser mais poderoso da terra, também sofre com os limites.

A ele não é dado o privilégio de conhecer o que possui, e isso, ao mesmo tempo, engrandece e esvazia o território dominado.

O domínio se concretiza por meio do discurso, mas o problema permanece, pois como alerta Marco Polo, “jamais se deve confundir uma cidade com o discurso que a descreve”.

Por fim, estão circunscritas a uma geografia indefinida as próprias cidades, dependentes eternas da memória de um homem, inevitavelmente falhas porque, maravilhosas que sejam, nunca serão Veneza: o ponto de partida e de referência, o real que fabrica o mito.

Calvino, através de Marco Polo, vai descrevendo as cidades nos seus conflitos, utopias, verdades e mentiras, na realidade e nas hipocrisias que elas ocultam, e principalmente naquilo que elas abrigam como elemento principal e construtores de sua história.

Cada cidade tem seus pontos de referência em cada área do conhecimento humano, esta, sobre a qual se debruça o editorial também tem.

Perdido pelo tempo e pela indisposição de seus governantes, ditada pela falta de sensibilidade e excesso de ignorância ou falta de reconhecimento a valores históricos ou culturais, a história que deveria e poderia ser contada foi em parte sepultada pela falta de preservação e de apoio a historiadores interessados na sua coleta e divulgação.

Ela existe e está inserida na alma das pessoas que aqui viveram e vez por outra dão o ar da graça nos textos de um ou outro bem intencionado que, à custa de muito sacrifício, garimpa em um lugar e outro pacientemente o que pode ser registro interessante do passado a contribuir para o entendimento do tempo presente e a construção daquilo que virá.

 A Cidade dos Olhos D’água, de São João Batista, Menina Moça, Capital do Folclore e Estância Turística foi encarando suas transformações, o fim da estrada boiadeira, as ruas de lama e barro, os paralepípedos que resistem rua ou outra, o entregador de água na carroça, os leiteiros e os padeiros nas madrugadas.

O homem da Companhia de Energia acendendo luz poste a poste, rua a rua com a vara de bambu.

As competições na quadra da Fundação, na Piscina dos Neves, Brejinho, Terrão, dançar na Uecio, Recreativo, Barão do Rio Branco, se distrair vendo Fotos no Abe antes de assistir filme no Cine Olímpia, beber uma na Triunfal depois do sorvete na Seleta.

E a cidade se esticando pros lados da São José, Santa Ifigênia, Jardim Glória, Bar do Murad, ponte no seco, barragem do Recco pra ir nadar, ou prainha da Cachoeirinha.

Olimpião no estádio aos domingos, show de calouros da Difusora no cinema, teatro com Paulo Goulart, tudo isto e outras coisas era esta cidade avançando e se projetando para o futuro, contando sem registro a história de si construída por seu povo.

Hoje, não é mais a mesma, não há matas a sua volta nem grandes cafezais, laranjais mínguam por ai e os canaviais se estendem por quilômetros.

Mudou, e vai mudar enquanto for viver, e como Marco Polo deveria estar relatando de que é feito seus sonhos e suas emoções, qual foi o caminho percorrido e se programar para onde levará o seu futuro incerto que poderá ser tão esquecido e alheio como foi parte de seu passado.

Ainda há tempo para se perguntar o que foi a Olímpia de ontem, o que é a cidade de hoje e se questionar sobre a que se pretende para sempre.

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