28 de junho | 2015

Olímpia teve sua noite de Chicago

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Do Conselho Editorial

Noite fria, neblina esfumaçando pelo asfalto que ainda detinha um mínimo calor de uma tarde em que o sol deu ares de quem nada quer com a vida em uma semiabandonada e pacata cidade onde até as corujas reclamam da falta de alguma atividade para balançar asas e agouros.

Se um cão vadio em passos lentos naquela hora buscava restos e latas para ser viradas, um ou outro gato mostrava a fuça numa fresta de janela, de resto nem moças sonhadoras nem rapazes viciados, nada nas ruas além de pedras, asfalto, guias, e uma vida monótona e sem direção.

Poderia ser diferente do que é mas não é, foi um dia mais agitado, mais balançante, mais vivente, mas não, cidade de encostar esquecimentos e abandonos, turisticamente envelhecida.

O sol por obrigação se levanta na mesma hora e a lua se recolhe sem atrasos, restaurantes fecham na hora do almoço, e nos feriados ninguém trabalha, com razão, de fora são turistas, os daqui são trabalhadores e pensam que amanhã a rotina vai engoli-los como engole a todos por todo o sempre.

E assim, neste corre-corre sem graça que os dias vão impondo um ao outro, vai à cidade sob neblina em plena madrugada sem barulhos de soluços, lágrimas, gargalhadas ou roncos fincando sola e sapato na busca do amanhecer.

Um dia sem sobressaltos na mesmice da terra que não se renova nem nos sobressaltos.

Vai mudando de fachada e vai mantendo a mesma sina de quem não avança sinais, assumindo o destino dos que se negam a grandeza, nem anda pra frente nem pra trás como os caranguejos, estaciona nas opções, se deixa nas estações e perde sempre o bonde da história.

Naquela noite, porém, em que a neblina escondia a face terna e dorminhoca da noite dos acomodados, voltou a terrinha aos anos da grande depressão, ao tempo da lei seca, em que a lei dura e áspera que mandava nas ruas, nos bordéis, nas casas de jogos, era a das metralhadoras dos gangsteres de Chicago.

Saltaram, Dillingers, Scarfaces, Bonnyes and Clydes, Al Capones tupiniquins, na praça central com suas escopetas e metralhadoras e esparramaram cães sonolentos e gatos vadios, assustaram árvores, colocaram pombas em revoada, fizeram tremer o asfalto, as guias e colocaram no chão a caixa que abrigava dinheiro no centro da cidade.

Afora vários tiros disparados para o ar e algum velhote com cueca samba canção azul de bolinhas brancas no parapeito de algum prédio tendo chiliques e ameaçando um infarto fatal a qualquer hora por conta destes meninos mal educados que vivem soltando foguetes e bombas de madrugada, nada de anormal relacionado ao bem maior que é a vida ocorreu.

Além das pombas que alçaram vôo assustadas e temerosas que com elas fosse a perseguição, voou pelos ares algumas centenas de notas, que posteriormente recolhidas do chão onde foram estatelar voltaram as mãos de quem supõe sejam seus donos.

Muito embora muitos outros pelos mais diversos cantos da cidade entristeceram-se por não ter estado logo após a saída dos meliantes de cena, só com o dinheiro a volta.

Como foram muitos os que demonstram que gostariam de estar lá depois da explosão por conta das notas arremessadas ao ar e ao abandono, é de supor que lotaria a praça de insones cidadãos se soubessem que estava a praça ladrilhada de dinheiro para o senhor ladrão levar.

É óbvio que não se fala mais nos ladrões que explodiram a caixa e o ar com seus balaços, e sim dos cidadãos que se assemelham a aqueles em seus desejos e só não têm coragem de sair explodindo o mundo por ai.

Já se esquecia aqui, do sempre heróico relato da policia que mesmo a lenda constando que ela sempre vai na direção contrária do bandido, desta vez, contada por eles mesmos. O que deixa sombra pequena de dúvidas, houve uma tentativa de ao menos avisar aos gangsteres, estamos aqui, meio a distância e fragilizados em potencial de armas.

Não bateram em retirada nem os bandidos saíram em desabalada carreira, viram e ouviram a distância, assim como relataram o acontecimento que tirou a cidade do marasmo e a colocou na rota da violência mais profissionalizada,mais aparelhada, mais perigosa.

E como afirmou um morador local, se não bastassem os bandidos que temos aqui agora vem os de fora.     

 Enfim, Olímpia viveu sua noite de Chicago, tomara que desperte para esta realidade e diferente de sempre faça alguma coisa.

 

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