09 de dezembro | 2012

Política, entre o real e o fictício

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Do Conselho Editorial
 O que deveria ser lição básica do jornalismo, e que geralmente não é respeitada, seria exatamente o compromisso com a verdade, a busca da notícia na fonte refletindo o universo que se busca refletir.

 

Por motivos econômicos há um desvio de conduta bastante evidenciado nas manipulações que envolvem o noticiário de grande parte da mídia subornada que são pelos que detêm o poder.
 

Razão pela qual, neste momento impar em que se discute uma pseudo moralização da política brasileira iniciada no Ficha Limpa, que retirou da disputa eleitoral diversos candidatos contaminados pelo péssimo hábito de tornar privado o que deveria ser público, a resultante do Mensalão que parece punir exemplarmente políticos envolvidos em possíveis ações condenáveis, a mídia comprometida se move pautada pelos interesses daqueles que geralmente a manipulam.
 

Discutem questões profundas de forma bastante submersa sem entrarem na questão como um todo, visto que há interesses que poderão ser contrariados caso haja, verdadeiramente, um posicionamento firme no sentido de encaminhar mudanças que reconduza ao eixo moral perdido a representação política tão desmoralizada pelas suas mazelas, pela cultura quase petrificada da visão de impunidade.
 

Neste tocante, no entanto, e não se observa na mídia nacional, e não se tem visto na mídia regional, discussão mais ampla a respeito de algumas questões que seriam extremamente necessárias caso o processo de moralização esteja se desenvolvendo de forma séria.
 

Como bem se pode observar, o oportunismo e a falta de decência fez com que vereadores reeleitos, aliados a não eleitos, que obedecem mais ao poder executivo do que estar atento as suas legítimas funções legislativas, de forma ladina e traiçoeira, estão por ai aumentando o salário dos próximos ocupantes de casas legislativas, de secretários, comissionados e de prefeitos.
 

Este golpe que será dado nos cofres públicos a partir do ano que vem, só não foi levado a efeito antes por que causaria impacto negativo na tentativa de reeleição de vereadores e prefeitos, já que parte do eleitorado entende estes reajustes como uma picaretagem sem igual.
 

E há sentido neste achar, já que geralmente vereadores se comportam, às vezes, em sua maioria, em muitas cidades, como empregados dos prefeitos e não como defensores da população que não consegue ver muita lógica que alguém ganhe uma fábula para comparecer duas vezes ou três no mês, por pouco mais de uma hora, nas Câmaras para dizer amém aos desejos do Executivo.
 

É, maioria dos casos, uma balela a discussão da independência entre os poderes, a troca de favores e cargos entre prefeitos e vereadores é uma das mais vergonhosas lições da mais deslavada prova da resistência de um sistema corrupto que se perpetua desde Cabral.
 

Ninguém se elege se posicionando a favor de criação de cargos, ou indicando que irá conduzir para o poder uma quantidade enorme de parasitas que irão ocupar cargos comissionados a preço de ouro.
 

Geralmente, depois de eleito é exatamente isto o que acontece, tanto que há uma resistência danada para se manter o maior número de comissionados nas prefeituras, sendo levada à discussão a última instância, se acaso a justiça conclua pelos excessos e determine a demissão.
 

Acordos políticos travados com candidatos ou com lideranças costumam ser os responsáveis por tamanha irresponsabilidade que mantém uma máquina cara e inchada, nada funcional, um Legislativo inoperante, caro, cheio de penduricalhos.
 

Situação idêntica a do Executivo, que torna ambos exemplos de como não se deveria administrar, por serem cabides de emprego que pagam salários muito acima das médias locais e se servem de amadores que no mercado de trabalho seriam absorvidos pelo salário mínimo, se fossem, tamanha a falta de profissionalização que muitos exibem.
 

Os vereadores eleitos por ai afora, mesmo que se negue, que se finja não saber, são eleitos financiados pelo interesse de fazer maioria, com dinheiro proveniente da máquina pública, mesmo que captado de forma indireta junto a fornecedores, ou desviado de emendas parlamentares que vão compor o caixa dois das campanhas milionárias, que elegem vereadores comprometidos até o pescoço com o grupo que os elegeram e sem nenhum compromisso social.
 

E o que é pior, depois de eleitos, financiados pelo que irá deter o poder central, em função dos acordos que fizeram para se lançarem candidatos, exibem a fatura, que é a famosa cota de cargos a serem indicados para mamar nas tetas públicas, cuja conta recairá sobre os ombros dos contribuintes.
 

Se acaso o candidato de sua preferência não se eleja, se o eleito não fizer maioria, isto será motivo para outro editorial.
 

Neste caso, claro ficou que a coisa é muito mais suja do que possa parecer e precisa ser mudada.
 

Se possível, com urgência, pois não tem cabimento a quantidade de prefeitos que estão enfrentando dificuldades para fecharem suas contas, o que pode ser outra fraude, outro assalto aos cofres públicos.
 

A impressão que passa é que muitos destroçaram as contas públicas para se elegerem, para isto basta relembrar a quantidade de churrasco e carros abastecidos, e a informação de que há por ai candidato eleito que ainda está pagando renovação de CNH e dentadura prometida na campanha.
 

Portanto, o discurso de fechamento das torneiras, demissão em massa pode ter outras discussões por trás, pode haver mais coisas no céu que aviões de carreira.
 

Sem contar que os compromissos assumidos passam pela troca de pessoas nos cargos que serão ocupados no futuro, o que indica que muitos serão alijados da boquinha.
Estas irresponsabilidades com o dinheiro público que destroçam as finanças das cidades, estes aumentos, tanto de salários quanto de cargos, que incham a máquina pública e comprometem serviços necessários à população.

 

As negociações sujas e ordinárias que parecem ser de bastidores, mais que é do conhecimento público, teriam que ser condenadas, consideradas criminosas.
 

Teriam que levar à cadeia os que comprometem a seriedade da gestão pública e transforma em um circo de horrores o que deveria ser a arte de bem servir ao povo.
E a mídia que fala tanto neste momento de tantas corrupções se cala por estar corrompida em relação a esta que destroça o país e no que deveria haver de mais sério, a confiança no homem público, que insiste nestas ações que provam sua pequenez e comprovam que valem menos que o pouco valor que a sociedade lhes confere.

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