29 de dezembro | 2019

Um novo ano para uma vida antiga

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“Tenham coragem, pois o que sustenta a existência é a esperança e o sonho com a possibilidade de dias melhores, mesmo que se tenha a exata e precisa certeza de que viver é rasgar-se e remendar-se”.

Do Conselho Editorial

Todo final de ano abriga e obriga nas discussões de mídia e mesmo nas mensagens pessoais uma dose muito elevada de hipocrisia e falsa ideia de que no ano vindouro o mundo será além de diferente muito melhor que o que foi deixado.

Esta tese contraria muito o apego que o ser humano tem ao seu passado, a construção de sua história baseada nos dias de ontem distor­cendo as imagens gravadas no retrovisor.

Muito embora a visão geral de se glorificar o passado como se fora os melhores dias da vida de cada um seja permanente nos escaninhos da memória, nada apaga os aborrecimentos e conflitos que se tenta ocultar.

A vida é permeada de alegrias e tristezas, de momentos felizes e infelizes, angústia, dor, sofrimento, compreensões, incompreensões, aproximações, distanciamen­tos, emoções de toda ordem e grandeza.

Se o discurso alto astral e positivista domina as redes sociais, mídia e encontros familiares não é, no entanto, significativo de que a simples mudança do ano no calendário trará transformações modificando para super maravilhosa a permanência em um possível paraíso terrestre.

Notável que o discurso eufórico que domina o período natalino e se estenda até dias após o início do novo ano, propiciando um astral de positividade e esperança no tão sofrido povo brasileiro.

Está escrito: “Nem só de pão viverá o homem…”; “a vida não é feita só de festivais…”; “Tudo o que muda a vida vem quieto no escuro, sem preparos de avisar”; Viver é um descuido”; Viver é rasgar-se e remendar-se …”

Portanto, se tomado ao pé da letra os textos bíblicos, a literatura e os mais que fartos relatos sobre a existência e a permanência do homem sobre a terra, concluir-se-á que o próximo e todos os que se sobreporem a ele serão idênticos aos que foram consumidos pela humanidade.

A dor, o sofrimento, a angústia humana, caminharão pelas ruas, quartos de hotéis, ambulatórios, clinicas, hospitais, presídios, hospícios, se farão presentes em vários lares, na depressão e nos vícios, preconceitos, discriminações, nas guerras e nos ódios.

A felicidade frequentará os lares, maternidades, praias, montanhas, beira de rios, resorts, clubes, festas familiares, e encontrará seu pico na posi­tividade das mensagens e no espírito que antecede as festas natalinas e o prenúncio da chegada de um novo ano mesmo que se tenha certeza de que tudo será como sempre foi e sempre será.

O que não significa que as pessoas não possam e não devam ter esperança de que tudo pode ser melhor mesmo sabendo que a felicidade, para muitos, é apenas a composição de momentos que se desejaria fossem eternos.

Afinal, “o correr da vida embrulha tudo”. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desin­quieta. O que ela quer da gente é coragem…”.

Tenham coragem, pois o que sustenta a existência é a esperança e o sonho com a possibilidade de dias melhores, mesmo que se tenha a exata e precisa certeza de que viver é rasgar-se e remendar-se.

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