26 de abril | 2020

Fábio contou na rádio Cidade como foram os últimos momentos do pai

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Clique e assista à entrevista com o médico Fábio Martinez
 

OS DETALHES DOS FATOS!
Estava ouvindo programa pelo rádio e resolveu explicar como foi a morte do pai.

“Ele foi pegar a minha mãe no “pilates”, abriu a porta do carro e morreu. Assim, caiu duro. Ninguém está preparado para isso”.

Uma comunicação via WhatsApp do também médico Fabio Martinez, se colocando a disposição para esclarecer a população sobre a morte do pai, pegou de surpresa os âncoras do programa “Cidade em Destaque”, Bruna Arantes Savegnago e José Antônio Arantes, por volta de 11h20 da quarta-feira, 22, um dia após o enterro do médico olimpiense Nilton Roberto Martines, que acabou chocando e consternando a maioria da população da região.

Por quase uma hora, com momentos de muita emoção que o obrigava e se controlar para poder falar, o médico Fabio Martinez que também é vice-prefeito de Olímpia e diretor técnico da Santa Casa local, falou sobre como foi a morte do pai, sobre o sofrimento da família e agradeceu todas as manifestações que recebeu e sentiu que não foi só ele que perdeu o pai, mas que muita gente tinha Nilton como um tutor, um benfeitor, principalmente na Santa Casa.

Fábio começou a entrevista explicando como estava a situação dele e da família um dia após o enterro do pai.

— Muito difícil, porque foi uma coisa súbita, não houve aquele negócio do doente e a coisa ir se agravando. Ele fez um cesárea de manhã, da Dra Paula, que é uma médica que trabalha com ele e queria muito que ele estivesse presente na cirurgia. Nesse momento eu estava fazendo uma endoscopia, eu fui tentar encontrá-lo, não consegui, já tinha ido embora. Isso aí me dá um pouco de dor. Ele foi pegar a minha mãe no “pilates”, abriu a porta do carro e morreu. Assim, caiu duro. Ninguém está preparado para isso.

Como que é essa embolia? O que é? Como acontece?

— A embolia é um sangue coagulado que subiu por uma veia de algum lugar. A gente acredita que seja da pelve por conta da radioterapia que ele fez. Esse sangue coagulado entupiu a artéria pulmonar dele, então a gente chama isso de tromboembolismo pulmonar. É uma das causas de morte súbitas mais comuns, geralmente é infarto ou tromboembolismo.

—- O que me conforta muita é que o meu pai foi muito bem atendido. Eu quero agradecer aqui, especialmente aos bombeiros, a Elen Ducatti, a fisioterapeuta que começou as massagens nele na rua, o corpo de bombeiros que chegou extremamente rápido, foram muito eficientes. Eu estava operando na Santa Casa, me ligaram, minha mãe chorando, eu liguei para o Dr. Henrique, o Dr. Pituca assumiram a cirurgia que eu estava fazendo, quero agradecer eles, para eu poder atender o meu pai.

— Eu já tinha perdido a esperança, já tinha desistido e a equipe da UTI ajudada por outros médicos, Dra Renata capitaneando, o Dr. Julio, Naiara, Henrique, Wagner. O hospital inteiro se mobilizou, era aquela cena de filme, as enfermeiras massageavam e choravam, pegando veia e choravam. Eu participei, consegui ajudar alguma coisa, de repente, desabava, chorava, depois ia lá, eles não estavam conseguindo pegar a veia central nele e eu fui lá e peguei a veia central, fiz a punção, depois precisamos passar um sonda nele, não conseguia passar a sonda porque ele tinha um desvio no esôfago, fui fazer uma endoscopia para passar a sonda.

— Foi pesado, mas no quinto ciclo de reanimação voltou a bater o coração dele. O Dr. Julio fez um ecocardiograma na UTI, identificou que tinha uma dilatação no coração à direita, isso é muito característico de embolia pulmonar, aí a gente já entrou em contato com o Hospital de Base e transferimos ele rápido, porque a gente sabia que precisava confirmar isso com uma tomografia e já fazer o procedimento de hemodinâmica para quebrar o trombo, desfazer e desobstruir a artéria pulmonar. Tudo foi feito de maneira adequada, rápido. Tanto aqui quanto no Hospital de Base, o pessoal foi muito profissional. Eu só tenho a agradecer e isso me trás um conforto muito grande, saber que o meu pai teve todas as oportunidades de sair vivo, mas que, infelizmente, o corpo dele não suportou.

— E mais, Arantes, concordo com você. Eu estava no carro escutando e ouvi você falando que depois que ele fez essa radioterapia, ele nunca mais foi o mesmo e eu também acho. Eu acho que ele entrou numa decadente física que estava tudo escrito e um monte de coincidências. Minha irmã Andreia vir de Brasília do nada. Ela nunca vem, veio. Ele ter pedido para a minha tia, que é espírita, livros sobre a vida após a morte. Ele estava lendo isso recentemente. Ele fez questão, naquele prêmio de São Paulo, que todos os filhos estivessem lá, que era muito importante que todo mundo estivesse e todo mundo se desdobrou para estar junto. Ele quis no final do ano ir para praia e juntar toda a família, ele nunca foi de ficar forçando esse tipo de coisa. Então, eu acho que as coisas estavam escritas, que chega a hora de Deus e ninguém consegue segurar isso não.

Quantos minutos o pessoal ficou reanimando, parece que você falou 14 minutos que ele teria ficado na Santa Casa, mas e antes?

— Na Santa Casa foram 15 minutos de parada, na rua você não sabe o quanto ele estava parado, o quanto não estava. O que acho que conseguiu manter ele foi a massagem inicial que a Elen e o bombeiro fizeram, mas com certeza, se ele saísse vivo, ele ia sair com uma sequela neurológica muito grande, até possivelmente ficaria em estado vegetativo.

O parto feito poucas horas antes de ter o mal súbito significava que iria voltar a trabalhar?

— Foi um caso de exceção, porque eles trabalham juntos. Ele era o porto seguro de todo mundo lá no hospital, tudo que complicava, chamavam ele. Eu chamava ele, a Paula, a Gueigla, o Henrique, a Naiara. Ele foi fazer para Paula por uma questão de vínculo afetivo de amizade. Ele estava falando para mim que pretendia voltar em maio a trabalhar, mas que ele tinha ligado para o médico que conduziu ele em São Paulo e o médico tinha achado melhor ele esperar ainda por causa do covid-19.  Ele era de um grupo de risco muito grande e ele ficou com tanto medo do covid e acabou falecendo de uma coisa totalmente sem relação e totalmente aguda.

SOBRE AS DEMONSTRAÇÕES DE CARINHO

— Nós agradecemos imensamente as demonstrações de carinho. Vieram pessoas de longe para se despedir dele. O que me chamou atenção, a simplicidade de muitas pessoas que faziam gestos extremamente carinhosos com ele e me chamou atenção um senhor bem humilde que pôs um radinho com a música da Nossa Senhora no ouvido dele. Foi muito emocionante o carinho do pessoal da Santa Casa. O pessoal tem que entender que o pessoal da Santa Casa ficou órfão, ele era o pai de todo mundo lá. Uma que estava com dificuldade financeira, ele ajudava; a outra tinha um problema, ele fazia, ele ajudava; a outra queria separar do marido, ele arrumava advogado; a outra queria fazer não sei o que, ele operava; a outra estava com a mãe na Bahia ruim, ele ajeitava. Ele era um cara que ajeitava a vida de todo mundo.

— Aquela coisa na frente do hospital foi muito espontânea, foi uma coisa difícil de segurar, de conter, porque foi um momento de despedida. Elas levaram a roupa do centro cirúrgico para ele usar. Então, assim, lá eu nem imaginava aquilo, que iam aparecer com a roupa do centro cirúrgico, que era a roupa azulzinha que em tantas fotos ele apareceu e pediram para enterrar ele com a roupa. Ele foi enterrado com a bandeira de Olímpia, que é a cidade que ele adotou e que ele amou, com o capote de cirurgia e com a roupinha do centro cirúrgico que eram as coisas que ele mais gostava. Eu acho que onde ele estiver ele está se sentindo agradecido, porque daquela última eleição de que ele não tinha um reconhecimento.

SOBRE O VELÓRIO E O CORTEJO COM ACÚMULO DE PESSOAS DEFRONTE À SANTA CASA

— A estrutura que foi montada foi tudo para evitar isso. É claro que em um momento assim, às vezes, as pessoas, eu mesmo, infringi alguma barreira sanitária. É difícil, mas a estrutura que foi montada foi para evitar isso e muito bem montada. Acho que na Câmara acabou ficando de bom tamanho, todo mundo de máscara. Agora, lá na frente da Santa Casa, eu acredito que aquilo lá foi uma explosão, uma coisa espontânea da população, que por mais que a gente oriente, nessa hora nem todo mundo é perfeito.

COMO FOI A CERIMONIA NO INTERIOR DO CEMITÉRIO

— Estavam as minhas irmãs, meus cunhados, alguns poucos parentes e o meu tio é um pastor adventista, o irmão da minha mãe e estudou com o meu pai, foi companheiro de medicina a vida inteira, então ele fez uma oração, contou uma passagem bíblica e nós rezamos. Nós levamos uma flor branca, cada um e depositamos lá no lugar que enterra.

— Por onde ele andava, ele deixava um caminho de luz. Às vezes você falar de crença é muito complicado, mas eu vi essa mensagem que alguém pôs na internet de que o céu em época de pandemia está precisando de mais gente lá, acho que o meu pai lá vai fazer um trabalho importante também. Eu até escrevi para um amigo meu ‘Acabou o sossego lá no céu, agora vai ter cirurgia o dia inteiro. Ele vai começar a operar lá e não vai parar mais. E a Cidinha, que trabalhou com ele a vida inteira, falava assim ‘Olha, eu só peço na vida para eu ir primeiro do que o Dr. Nilton, porque pelo menos eu vou ter um tempo de descanso. Se ele for primeiro do que eu, na hora que eu chegar no céu ele já vai falar: vai, Cidinha, se troca e vamos.’ e, infelizmente, ele foi antes. Ela não vai ter esse descanso quando chegar lá, ela vai ter que trabalhar.

SOBRE SUBSTITUIR O PAI

— O meu pai era único e eu falo que eu tenho que comer muito arroz e feijão para chegar nele. Estou sentindo um peso no meu ombro, agora não tem mais aonde correr. Agora acho que vamos ter uma mudança profunda na estrutura de saúde, porque nós somos em poucos médicos na cidade. Ele era um cara que fazia várias áreas, ele era urologista, ele era coloproctologista, ele era ginecologista, ele era cirurgião geral, ele era psiquiatra. Ela era um tudo, que é uma formação médica que já não existe mais, essa formação tão generalista. Vamos precisar de vários médicos para substituí-lo.

SOBRE O NÚMERO DE CIRURGIAS E CONSULTAS DO PAI

— Difícil dizer isso. Ele falava que tinha feito em torno de 50 mil cirurgias na vida. Quando eu cheguei em Olímpia, ele fazia 100, 120 cirurgias por mês. Às vezes ele me ligava de domingo e falava ‘Nossa, Fabião, Internei um caso aqui lindo. Vamos fazer isso aí hoje?’. Podia fazer segunda, mas ele não aguentava esperar. Ele tinha que fazer aquilo lá e ele fotografava, 3 horas da manhã a gente auxiliando ele, ele parava a cirurgia para tirar as fotos para mandar para o curso para ensinar outras pessoas. Ele tem fotos raríssimas, vídeos raríssimos. Ele tem um arquivo científico muito grande, porque ela tinha essa mania de professor.

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