29 de junho | 2008

Falta de punição a filhos e consumo de drogas fazem crescer a violência

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 A falta de punição aos filhos e o consumo elevado de drogas são dois fatores apontados pelo delegado João Brocanello Neto (foto), titular da Delegacia de Polícia de Olímpia, que favorecem o aumento dos índices de violência que, reconhece, é bastante acentuado diante do quadro que se verifica no cotidiano do trabalho que desenvolve, demonstrando que a população está mais violenta.

"A juventude está precisando de freios em que às vezes nós percebemos não existem dentro de casa. Muitos pais justificam que não tomam atitudes mais duras contra os filhos em determinadas ocasiões e nessas, principalmente, por atribuir culpa exclusiva do Estatuto da Criança e do Adolescente", comenta.

Comparando com o período da própria adolescência, lembra que eram poucas pessoas consumidoras de drogas em relação ao que se vê atualmente. "Lembro que havia pouquíssimas pessoas que consumiam", reforça.

O delegado explica que a pessoa "embebida numa substância entorpecente como crack ou cocaína e arraigada com bebida alcoólica, fica mais violenta e destemida e, conseqüentemente, segue no embalo com outros colegas e acaba cometendo esse tipo de delito".

Porém, até pela experiência adquirida na profissão descarta a desigualdade sócio-econômica como causa exclusiva para um ser humano praticar delitos: "Muitas pessoas nascidas em berços tidos como de famílias de boa índole, acabam, por questões inúmeras, se envolvendo com bandos ou quadrilhas e entrando no mundo do crime", demonstra, citando também a ociosidade como causa da violência.

Brocanello defende que o adolescente, a partir dos 15 anos de idade, deveria se dedicar ao trabalho, além, claro, sem dispensar a necessidade de dedicar também aos estudos. Mesmo porque, entende também, que há como desenvolver as duas atividades importantes para que se torne um cidadão de bem.

"Falo isso com experiência própria de família. Tanto eu, quanto meu irmão, começamos a trabalhar desde pequenos. Eu com treze e ele também, se não estiver enganado. Tanto é que estou com 42 anos de idade e 27 de aposentadoria contribuída e não me arrependo. Tenho certeza que graças a essa visão dos meus pais eu e meu irmão somos pessoas de bem e estamos cumprindo com as nossas obrigações e tentando passar todos esses ensinamentos aos nossos filhos", justificou.

Para o delegado é importante que o adolescente trabalhe evitando lugares insalubres e a escravidão, como forma de adquirir "responsabilidades para enxergar perspectivas de uma boa visão futura, política, social e familiar e, também estudar porque dá muito bem para fazer essas duas coisas".

Não falta crítica ao sistema educacional atual: "Os maus alunos vão à escola e não têm vontade de aprender, porque não há uma obrigação em fazer com que sejam instruídos. Não tem mais repetência, então não têm obrigação de estudar".

A impunidade também é outro fator citado por Brocanello. "Tudo na sociedade tem reflexos e vivemos num país em desenvolvimento e com muitas desigualdades. Há excessos de corrupção em todos os segmentos e isso, para algumas pessoas é fator preponderante para que seja institucionalizada a bagunça geral", explica.

Por outro lado, do sistema carcerário não reeduca o preso. Fala que embora a lei seja perfeita, "as instalações não são condizentes para proporcionar ao ser humano que cometeu um crime, meios e condições para que se restabeleça".

A omissão da sociedade em algumas situações também favorece a instituição da violência como meio de vida "na medida em que vê alguma coisa e finge que não a vê, até com medo de represálias ou por não acreditar no sistema, contribuindo para que a democracia seja afogada num mundo de criminalidade".

Na visão e Brocanello a sociedade como um todo ainda não se adaptou perfeitamente depois de ter saído de um longo período de ditadura. "Isso traz um embaraço muito grande, porque há confusão, no meu modo de ver, entre democracia e libertinagem".

A essa falta de adaptação o delegado justifica as falsas interpretações ou mesmo a falsa realidade. "Creio que a comunidade, falo porque faço parte dela também e coloco a minha culpa, todos somos culpados e não podemos atribuir que só a um ou outro lado", afirma.

Porém, prefere não fazer observações sobre o sistema de segurança pública: "A única coisa que falo é que a polícia, tanto civil quanto militar, independentemente de estar com excesso ou não de contingente, se está aparelhada ou não, se ganha bem ou não, estamos aqui para trabalhar e ninguém tem o que reclamar. Se não estiver satisfeito pede para sair".

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