26 de agosto | 2013

Morte de 59 estudantes em acidente na ponte do Turvo completou 53 anos

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Da redação e Diário da Região
Completados 53 anos da morte de 59 estudantes passageiros de um ônibus que caiu no rio Turvo no dia 24 de agosto de 1960, fotos dos alunos colocadas em um mural na Faculdade Dom Pedro 2º é um tabu para o diretor da instituição, Achiles Fernando Abelaira.

Ele chega na porta, entra na sala com muita resistência, mas jamais olha para as imagens dos jovens da fanfarra do colégio. Só de tocar no assunto, os olhos enchem de lágrimas e a voz fica embargada. Achiles era professor das vítimas e nunca conseguiu se conformar com o desfecho trágico da viagem.

Estudantes entre 16 e 17 anos da Escola de Comércio Dom Pedro 2º e Ginásio Rio Preto – hoje Faculdade Dom Pedro 2º – que tiveram sonhos, planos e carreira interrompida em um dos maiores acidentes rodoviários do país. De 64 ocupantes do ônibus que seguiam para Barretos, para um desfile de fanfarra no aniversário da cidade, apenas cinco sobreviveram.

A memória das vítimas foi lembrada em duas missas. Uma na capela da Catedral de São José, e outra, em culto ecumênico na capela construída em homenagem aos estudantes, às margens do Turvo, na divisa entre Guapiaçu e Olímpia.

“Jovens promissores. Era o futuro do Brasil e a esperança da sociedade. Nunca esquecerei a tristeza que era chegar na sala e fazer chamada. Os alunos choravam quando o nome de alguma das vítimas era chamada”, afirma Achiles.

Após o acidente, conta, o colégio ficou quase o ano todo sem aula porque professores e alunos viviam a dor da perda e o luto pairou sobre o antigo prédio, na rua General Glicério.

O clima vivido naquela ocasião na Dom Pedro era totalmente o oposto dos dias normais. Considerada a melhor escola de então, abrigava alunos alegres e entusiasmados. “Era uma felicidade total. Estavam ainda mais felizes porque ganharam a viagem (para Barretos) e seriam homenageados”, diz Achiles.

Os alunos haviam sido convidados pela Prefeitura de Barretos para tocarem no aniversário da cidade e durante a cerimônia receberiam uma homenagem pela maestria da fanfarra. “Todos estavam muito animados, bagunçando no ônibus junto com os instrumentos. Era uma festa. Sabe como é, jovem gosta de tudo quanto é bagunça”, lembra Zilda Gomes Molnar, 70, aluna na época.

A fanfarra viajava em dois ônibus. O da frente levava as garotas, entre elas Zilda. O veículo de trás, onde viajavam os rapazes, caiu na ponte do quilômetro 27 da rodovia Assis Chateuabriand, direto nas águas do Turvo. O motorista Wosihiyki Hahiasi, que estaria acima da velocidade, não observou um desvio na ponte e perdeu o controle da direção.

A FATÍDICA NOTÍCIA
O comunicado do acidente foi feito meia hora depois. Um homem que seguia de carro para Rio Preto viu a tragédia e foi correndo para o colégio. “Estava no saguão de entrada. O rapaz chegou chorando e gritando: ‘Todo mundo morreu, o ônibus tombou e não estão achando ninguém’. Não acreditei e corri para lá. Foi uma loucura”, lembra Achiles, ao mencionar o trabalho de resgate que avançou madrugada adentro.

O colégio recebeu correspondências de todos os cantos do mundo com mensagens de solidariedade. “Todas estão guardadas na biblioteca, mas não gosto nem de abri-las”.

O REFLEXO DO ACIDENTE
O acidente causou grande comoção em São José do Rio Preto, Barretos, Guapiaçu e Olímpia. As famílias velaram seus entes nas próprias casas e depois se reuniram todos em frente da catedral. Os sepultamentos começaram no dia 25 e duraram a noite inteira. Todos os anos é realizada uma missa no primeiro domingo após o aniversário da tragédia.No livro "Vida no Além", de Chico Xavier, em uma mensagem psicografada de Maura Araújo Javarini, há uma menção a um dos estudantes mortos no acidente, Célio Álvaro de Souza Santos Junior, que faleceu com 15 anos.

HOMENAGENS
Há duas músicas que falam da tragédia: "Tragédia do Rio Turvo" cantada por Vieira e Vieirinha e "Rio Preto de Luto" cantada por Tião Carreiro e Pardinho e no dia 30 de agosto de 1960, 6 dias após a tragédia, a Câmara de Vereadores de São José do Rio Preto realizou uma sessão extraordinária em homenagem às vitimas e aprovaram projeto de lei mudando o nome da extinta Avenida Mirassol para Avenida dos Estudantes, onde também foi erguido monumento com os nome dos jovens.

Em 2010, no aniversário de 50 anos do acidente, foram plantados 59 jequitibás e instalado um memorial com os nomes das 59 vítimas em uma praça de São José do Rio Preto, que recebeu o nome de "Bosque da Saudade".

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