10 de janeiro | 2021

A carreata da morte e dos desesperados

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“Se estivessem preocupados com a vida e com a economia, ao invés de carreata pedindo privilégios inadmissíveis deveriam fazer carreata para pressionar o digníssimo inominado para parar com guerras com governadores de vários estados e se unir a eles pra buscar  uma solução científica para o caso”.

Do Conselho Editorial

Foi convocada pelas redes sociais uma carreata liderada por um movimento ligado a “negacio­nistas” locais com o argumento irresponsável de que Olímpia não poderia voltar à fase vermelha, como ocorreu nos dois finais de semana seguidos do final do ano, para não trazer prejuízo ao comércio local.

Sem grandes adesões ou repercussão, mostrando o isolamento dos que indiretamente acabam pregando o caos e a morte em razão do lucro e da vantagem imediata, a carreata da morte ocorreu dia 7 de janeiro.

Entre os que se posi­cio­naram na frente do movimento, um comerciante local cujas dificuldades econômicas foram expostas de forma indevida nas redes sociais, na campanha eleitoral.

Ligado aos extremistas do gabinete do ódio local e, ao que tudo indica, defensor do autoritarismo e da visão “negacionista” do atual governante da nação e a corrente extremista conservadora local.

É “negacionista” ao pon­to de negar que é “ne­gacionista”.

Ocorre que não é o desejo pessoal de alguém que a torna uma pessoa avançada ou atrasada, moderna ou primitiva, esclarecida ou ignorante; é o posicionamento tornado público que comprova o nível de estupidez ou de conhecimento de alguém.

E, neste comerciante, a menos que saiba disfarçar muito bem, as indicativas demonstram que caminha na contramão da história, mesmo que esper­neie tentando exibir um grau de intelectualidade cuja fragilidade é cristalina e aparente, até para quem só lê bula de remédio por obrigação.

Nada demais, ninguém é obrigado a saber tudo, mas posar de sabichão sem ser é pagar mico; e conduzir a população a erro é por demais grave neste momento.

Compreende-se a situação de dificuldades porque passa, da mesma maneira é compreensível que outros que se encontram na mesma situação se aliem a esta tresloucada aventura inglória por perceber que caminham pra falência.

É compreensivo, mas não é justificável, por mais que berre sua insanidade e a dos demais “nega­cionis­tas” e a razão é que pessoas que pensam assim que ajudaram a produzir este estado de coisas.

Sim.

E é preciso afirmar isto com todas as letras.

Foram os “negacio­nis­tas” que se negaram a usar máscaras, provocaram aglomerações, negam a vacina e a vacinação e apo­i­am um governante que impõe dificuldades a que a população seja vacinada.

Tudo tem um preço e não serão vocês que não se cuidaram que defenderam o deus mercado, o dinheiro acima de tudo, que ficarão de fora do prejuízo que suas inconsequências ajudaram a produzir.

O jornal também é uma empresa e depende de outras empresas para sobreviver e enfrenta dificuldades como todo comércio em razão do fechamento de empresas por conta da crise.

Nem por isto vai se desumanizar e abraçar o discurso criminoso da não observação de regras para conter a pandemia e as mortes.

Importante é a vida, com ela se reconstrói o mundo e o tempo perdido, sem ela não há mundo e quem se foi se obrigou a saber isto e nem a despedida de mais de 200 mil conseguem convencer a estupidez que a questão é muito séria.

O movimento se autodesignou Movimento Popular Livre Comércio, como se o comércio fosse um órgão separado do corpo social e só ele tivesse que estar liberto para desrespeitar normas e lotar UTIs.

A liberdade não distingue uma categoria, não premia parte da população, é direito constitucional de toda a sociedade brasileira.

Da mesma maneira as leis não podem privilegiar este ou aquele setor por razões que não se justifiquem.

Em um momento de extrema gravidade, de comoção social, todos, independente de estarem ou não a beira da falência, devem dar sua contribuição para superar a gravidade deste momento.

Estes comerciantes desesperados com seus negócios, se estivessem interessados que a situação se resolvesse, deveriam estar promovendo campanhas de conscientização para ajudar a combater a pandemia.

Muitos deles, pelo Brasil afora, deram exemplos na direção contrária e a situação, como previsto, saiu de controle.

Não é necessário perguntar ao comerciante promotor do evento se na campanha eleitoral foram observadas regras de distanciamento, utilização de máscaras e recomendações da OMS, porque estão em sua página do Facebook muitas fotos de descumprimento das regras.

E, ao se percorrer as páginas de muitos que estiveram na fatídica carreata, vai se chegar à conclusão que a grita é por lucro e prejuízo, como se o ser humano e a vida não valessem nada.

Grande parte faz questão de desrespeitar as regras impostas para o Covid.

Se insistir, no vasculhar a página deste comerciante “negacionista” e de outros que a ele se juntam, perceber-se-á que a questão é mais política, no sentido de desgastar o governador que outra coisa.

Infelizmente parti­dari­zaram a questão.

Você não encontra uma menção que seja à vacina como solução.

Já, críticas ao trabalho do governo estadual há de pilhas.

O Governo estadual é abaixo da crítica, mas na questão do Covid tem se distinguido.

Pra se ter uma ideia do absurdo que tomou conta deste país, o ministro Ri­cardo Lewandowski, do STF, proibiu o governo Jair Bolsonaro de confiscar seringas e agulhas que poderão ser usadas na vacinação contra o Coronavírus pelo governo do Estado de São Paulo, comandado pelo adversário, João Doria (PSDB).

Na decisão, proferida na sexta-feira, 8, Lewando­wski determina que o governo federal não pode requisitar os produtos e, caso já tenha a posse dos materiais, devolva em até 48 horas, sob pena de multa de R$ 100 mil por dia.

“Observo, ademais, que a incúria do Governo Federal não pode penalizar a diligência da Administração do Estado de São Paulo, a qual vem se preparando, de longa data, com o devido zelo para enfrentar a atual crise sanitária”, afirmou o ministro.

Estes comerciantes, se estivessem, ou se estiverem preocupados com a vida e com a economia, ao invés de carreata pedindo privilégios inadmissíveis deveriam fazer carreata para pressionar o dignís­simo inominado para parar com guerras com governadores de vários estados e se unir a eles pra buscar uma solução científica para o caso.

Sim.

Por que ai a solução seria definitiva, a economia voltaria a funcionar, como irá voltar em breve em países em que a vacina já está sendo disponibilizada e o bem maior, a vida, seria preservado.

Carreata da morte só levará a mais mortos.

Carreata de desesperados só trará mais desespero.

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