16 de julho | 2017

A violência enquanto solução de conflitos

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Do Conselho Editorial

Os últimos acontecimentos de violência ocorridos em Olímpia e região apontam para um crescente da solução de conflitos pelo método olho por olho, dente por dente, como nunca dantes visto com tamanha frequência.

Parece que qualquer coisinha, qualquer atrito é mais que suficiente para se jogar contra o adversário com todas as armas possíveis para dirimir dúvidas que, às vezes, na condução do bom e velho diálogo poderiam ser solucionadas sem saldo de vítimas, lágrimas, sangue, feridos, mortos.

Em realidade é necessário notar que estes acontecimentos, em que pesem as diferenças e as razões pelas quais se dão, vêm aumentando pelo mundo afora e no Brasil, nas grandes capitais, é assombrosa a quantidade de situações em que os atritos pessoais são resolvidos na ponta do “três oitão” da “lapiana”, na base da peixeira e tiro.

Olímpia, assim como muitas cidades do interior, vivia calma e pacificamente a tranquilidade de muitos lugares onde a sombra dos ipês carregados de flores convidavam a discutir à sombra, a passagem serena da vida.

Mesmo nos tempos de Anibal Vieira, o Lampião paulista, verificando o histórico de violência, há de se concluir que mesmo abrigando uma figura lendária envolvida em crimes de aluguel a provinciana cidade dos olhos d’água era tranquilidade e sonolência.

Não se pode dizer o mesmo do que se vê noticiado nos últimos tempos, suicídios, brigas, homicídios, furtos, roubos, assalto a bancos e caixas eletrônicas, tiroteios e cenas dignas de filme de ação de “bang bang” italiano em pleno centro da cidade.

Que não é a mesma cidade de outrora, não é, mudou suas características para pior.

Não é mais uma cidade onde se pode recomendar a instalação de cadeiras nas calçadas no final da tarde para um amigável bate papo entre vizinhos.

Porém, esta triste realidade em nada difere do que vêm, por motivos diversos, ocorrendo em muitas cidades pelo pais afora e se repetindo todos os dias nos noticiários que refletem o cotidiano das grandes cidades.

A linguagem do recrudescimento vem se ampliando, o radicalismo está presente por demais na sociedade como um todo.

As redes sociais, notada­mente extravasam a tendência de grande parte da população reivindicando soluções extremas para questões de ordem muito simples que poderiam ser solucionadas de forma menos bélica e perigosa.

É do ser humano, do instinto, esta selvageria, o desejo de se empoderar através da força e da truculência.

Em razão disto cresce o temor nos que descreem destas práticas condenáveis e os aprisionam em si mesmo preocupados por ver no outro um perigo em potencial.

O tiroteio que abalou Olímpia e as situações paralelas criadas em razão dos acontecimentos dão bem a conta da loucura geral que se transformou a comunicação entre as pessoas.

Primeiro, que não há como creditar seriedade a uma cobrança feita fora dos moldes civilizatórios, onde o cobrador vai armado para comunicar a dívida e o devedor igualmente espera armado até os dentes pela cobrança.

A sensação que fica é que se trata muito mais de um duelo com hora marcada que outra coisa, e a quantidade de tiros e feridos dá bem a conta da cena de “bang bang” ocorrida.

Quem é culpado ou inocente, como em toda tragédia, depende do humano que avalia, e ai, ficou demonstrado que houve interpretações para cada gosto e vontade.

O número de verdades e meias verdades ditas nas redes sociais, se filtradas e transformadas em livro ou filme construiria um roteiro bastante interessante, mesmo que não coincidisse com a realidade dos fatos.

Realidade sobre a qual só os envolvidos poderão elucidar.

No entanto, houve fugas cinematográficas, carros fechando a via pública, helicópteros da Policia Militar, Santa Casa cercada pela polícia, capangas contratados no Mato Grosso para dar fuga a ferido e outras situações fantásticas e irreais, todas criadas pela fantasia coletiva.

Houve até recomendação para que as pessoas evitassem sair de casa por que a situação estava fora de controle.

Nada oficial e muito menos real, criação da cabeça de cada um que gostaria de protagonismo ou sob o controle do medo atuou como se suas preocupações diante de tudo quanto assiste nos noticiários pudesse de fato estar acontecendo.

Aconteceu, o que se pode considerar uma tragédia, aconteceram outras tragédias no mesmo período tão intensas e dramáticas quanto o tiroteio, e continuarão a acontecer fruto de uma sociedade que se desmancha e perde o controle sob a violência que cresce e multiplica.

Olímpia, como tantas outras cidades não é e nunca mais será da forma tran­quila e pacífica que foi um dia e a culpa, se culpa há, é o fenômeno do crescimento da noção de impunidade aliado a falta da pre­sença do Estado fundida a cultura de resolução de conflitos pela trucu­lência ligados todos a falta de cultura civilizatória que naturaliza questões graves que culminam em tragédias.

 

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