11 de abril | 2020

O Coronavírus mudará a história da humanidade?

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“O mundo já mudou, pois já descobriu os que vestem a fantasia de terráqueos, os que são inumanos, os que propagam o ódio (…), enfim, os que são tão minúsculos, tão diminutos, que não conseguem enxergar nem a si como necessários à continuidade da vida, por não terem nada pra dar de excelente ou por terem concluído que nada foram e nada serão”.

Do Conselho Editorial

Pelo que se sabe até agora sobre a eficiência do tratamento do Corona vírus com a cloroquina ou qualquer outra medicação é pura e simplesmente especulação por não existirem estudos científicos sérios até o momento que possam comprovar sua eficácia.

Há relatos de médicos que fizeram o uso do remédio em si e nos seus pacientes que em razão do uso de outras panaceias não podem assegurar que o medicamento possa ter sido responsável pela recuperação de si ou de seus pacientes.

Ninguém é e nem pode ser contra o uso do medicamento, desde que com recomendação médica e autorizada pelo paciente, em razão dos seus efeitos colaterais e a ainda não comprovada eficácia no tratamento do Covid-19.

No bojo desta discussão, denúncia de respeitado jornal americano dá conta de que o presidente daquele país tem interesses econômicos na indústria fabricante do remédio e suspeita-se que por isto é defensor intransigente do seu uso.

No dia 07/04 a agência de notícias Reuters anunciou que o Centro de Prevenção e Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC) removeu de seu website orientações altamente incomuns que informavam médicos sobre como prescrever a hi­dro­xicloroquina e a cloro­quina, remédios recomendados pelo presidente Donald Trump para tratar  o coronavírus.

A Índia e outros países proibiram o uso da Cloro­quina e uma das recomendações mais divulgadas pelos médicos e cientistas é sobre o uso da hidroxi­cloroquina apenas como tratamento auxiliar e em casos graves.

Evidente que estes casos, cujo desfecho seria a morte, a recomendação se dá exatamente como última tentativa de se resgatar o paciente.

No Brasil, duas correntes debatem o tema enquanto uma terceira distorce de forma a que a sociedade brasileira fique, além de perdida, totalmente desinformada sobre qual o melhor caminho a seguir.

A corrente a que está atrelada ao presidente Jair Bolsonaro, que é apêndice de Trump, aposta na Cloroquina como a salvação contra a pandemia que se alastra e a ela se somam médicos e cientistas que discutem os efeitos benéficos do tratamento sem comprovação científica alguma.

Do outro lado, os contrários ao uso da Cloroquina, entre eles o Ministro da Saúde, que observa além dos efeitos colaterais do remédio, dados que demonstram que sua aplicação em pouco ou nada mudou, quando utilizado no tratamento do Coro­na­vírus.

Segue sua orientação médicos e cientistas que, baseados em estatísticas, pesquisas, estudos, testes, concluíram que seu efeito pode ser mais danoso que benéfico no tratamento da doença.

Esta corrente advoga que, em casos extremos, desde que recomendado pelo profissional médico e permitido pelo paciente se faça uso da cloroquina.

A discussão não envolve ser contra ou a favor do medicamento e sim muito mais os efeitos benéficos ou os malefícios que ele pode trazer ao tratamento. Muitos, inclusive, divulgam a importância de que os estudos sejam agilizados para que o medicamento possa ser utilizado na dosagem exata e com resultados positivos.

A terceira “tchurma”, “Olavetes” de carteirinha, instalados no gabinete do ódio, divulgam mentiras e induzem a erro os menos esclarecidos pela rede social.

Todo dia tem uma postagem dando conta de alguém sem nome ou sobrenome que se curou do coronavírus por que se tratou com cloroquina.

Bolsonaro, assim como Trump, tem feito lobby pelo uso do cloroquina e vários perfis falsos no Twitter, dos chamados robôs, dispararam para milhões de mensagens sempre com casos de pessoas que teriam se curado com cloroquina, remédio de eficácia não comprovada, pelo menos por enquanto.

Se não vivesse o país uma pandemia com uma eminente possível crise econômica vindoura, seria compreensível que o mandatário da nação politizasse o debate, mas no meio do caos vigente é cruel, surreal e maluca tal discussão.

O que se observa é que se coloca a necessidade de se sair vencedor de uma disputa onde está em jogo a vida das pessoas e o discurso inumano que se ouve é o de que se perderão naturalmente algumas vidas de idosos e se recomenda além de um tratamento cuja eficácia não é comprovada, a quebra do isolamento, o único remédio com efeito cientificamente comprovado.

Em países onde isto ocorreu o número de mortes cresceu assustadoramente e Espanha, Itália e Estados Unidos e agora Japão estão ai para comprovar a veracidade do escrito.

Nunca se viu tanta falta de respeito pela vida humana por parte de algumas autoridades como tem se visto no Brasil, assim como não se tem registro de uma classe empresarial tão desumana como a brasileira.

Uma quarta corrente que não foi citada e passa a ser agora é a que defende que o mundo não será o mesmo depois desta pan­de­mia, e não será mesmo.

Estes estão, desde o princípio da pandemia, apregoando que o coro­navírus mudará a história da humanidade.

E a resposta já está dada e só não perceberam os desatentos.

Mudou e vai mudar enquanto vida houver e esta mudança dividiu duas correntes distintas: os que estão lutando pela vida e os que proclamam a morte rápida para que as máquinas e a produção voltem.

De um lado os que vestem uniformes nos hospitais e doam o que tem de melhor na luta feroz e valente, colocando a vida em risco pra que seu semelhante sobreviva.

Médicos (as) enfermeiros (as) técnicos, cientistas, laboratoristas, pessoal de manutenção, fabricantes, voluntários e até aquele cidadão carinhoso que fabrica em casa e distribui merendas e máscaras.

Os artistas que fazem “lives” pra distrair na quarentena, o professor (a) que distribui trabalhos e aulas na rede, o comerciante que toma todos os cuidados pra servir a clientela, o caminhoneiro que transporta o necessário à sobrevivência, os que cantam nas janelas, todos que invocam a poesia do viver nas mais diversas e belas formas que ele habita.

O mundo já mudou, pois já descobriu os que vestem a fantasia de terráqueos, os que são inumanos, os que propagam o ódio, os que não valorizam a vida do outro, os que enxergam o dinheiro e o deus mercado como razão de suas existências, os que não amam seus pais e avós, os que não se preocupam se seus filhos vão estar vivos ou não.

Os que, enfim, são tão minúsculos, tão diminutos, que não conseguem enxergar nem a si como necessários à continuidade da vida, por não terem nada pra dar de excelente ou por terem concluído que nada foram e nada serão.

 

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