13 de outubro | 2018

O nazismo bate à porta

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Do Conselho Editorial

A cidade de Olímpia, assim como outras cidades brasileiras, oculta em seu histórico uma fonte relativamente abundante em relação à paixão pelo nazifascismo.

Por aqui pulularam vários movimentos em prol das correntes favoráveis a regimes ditatoriais desde sempre, e mesmo a vocação para eleições de coronéis excludentes da opinião de maioria sempre foram a tônica marcante da cidade.

Negros, pobres e minorias nunca tiveram acesso ao poder e além de sofrer silenciosas discriminações pouco ou nada foram ouvidos quando se tratava ou se trata de políticas públicas.

Alguém que por acaso esteja lendo estas linhas, lembrará de um ou outro negro (a), de alguém participante da minoria invisibilizada ou de alguma mulher que em um momento ou outro se alinhou ao pensamento coronel nazifascista predominante e ocupou espaços de poder.

Um ou outro (a) contemplado com migalhas do poder não reflete a realidade de uma sociedade tão diversa em seus aspectos de raça e gênero.

O episódio que marcou a passagem do primeiro para o segundo turno das eleições foi extremamente relevante para determinar o espírito protofascista predominante na cidade.

Bom lembrar que o protofascismo é o estágio rudimentar, inicial ou mais primitivo, do fascismo implementado na Itália por Benito Mussolini.

Um sistema político que se pauta no fascismo, no despotismo, na violência, na censura, caracterizado por um governo antidemocrático ou ditatorial.

O fascismo por sua vez é o estágio anterior ao nazismo.

A idolatria pelo fascismo e mesmo pelo nazismo na cidade tem raízes profundas e há historiadores que registraram e registram a presença de movimentos em prol destas condenáveis correntes, que se revelaram assassinas quando no poder na Europa.

Getúlio Vargas, por exemplo, foi admirador do fascismo e fechou acordos de colaboração com o nazismo, um exemplo, para ficar no mais conhecido é a entrega de Olga Benário para morrer em campos de concentração.

Por aqui, Getúlio, em sua fase ditatorial, teve muitos seguidores, assim como os integralistas, e no período da ditadura militar a cidade abrigou por anos uma sede da TFP – Tradição Família e Propriedade, muito conhecida pela sua pregação nazifascista.

Nesta eleição, voltando à discussão, veio a baila o monstro que dormia no fundo do lago.

A carreata que culminou com centenas de carros, direito legítimo de manifestação em uma democracia, deu, no entanto visibilidade ao número nada insignificante dos que se alinham a favor de um país governado por um amante da ditadura e que conduz a campanha como se baseado nas recomendações do livreto escrito por Hitler, Minha Luta.

Os que se horrorizarem ou duvidarem do exposto, basta baixar o livro na internet e conferir que muito dos acontecimentos de campanha do candidato a ditador remetem ao livro.

E mesmo sua campanha e sua fala discriminatória, preconceituosa e esti­mula­dora da violência conduz a campanha de Hitler que foi eleito com plataforma não muito diferente do ditador de hoje.

O incrível, e há entrevistas e até documentários e livros que relatam isto, é que o povo alemão que Hitler dizia clara e abertamente que iria perseguir, minimizavam seus exageros retóricos e atribuíam aquelas falas a excessos de campanha.

A campanha do atual pretendente a ditador traz o slogan “Brasil acima de tudo” extraído de (Alemanha acima de tudo) que não foi apenas o hino alemão, mas a trilha sonora do nazismo durante a Segunda Guerra Mundial e todos os acontecimentos terríveis que permearam o período.

É, no mínimo triste, que 66 anos após a Alemanha retirar a estrofe de seu hino nacional, tenhamos um pré-candidato a presidência no Brasil utilizando exatamente o mesmo mote como slogan de campanha.

Consideravam- no um palhaço, um pateta que chegaria ao poder e faria o contrário do afirmava. Seis milhões de seres humanos pagaram com a vida pela credulidade exagerada.

A Alemanha como o Brasil passava por uma grave crise econômica e política o que facilitou o discurso fácil e grosseiro de mudanças baseadas no uso da violência e no combate a corrupção contra situações econômicas que extrapolam este sim­plis­mo hitlerista que vimos ocorrer na Alemanha e que vemos acontecer aqui.

Hitler teve o apoio de empresários, ruralistas, mídia e pasmem, parte da comunidade judia.

Sofreu o que se conven­cionou chamar de atentado antes de chegar ao poder. E tentou um golpe, que falhou, antes de chegar ao poder conhecido como O Putsch da Cerveja­ria ou Putsch de Munique.

Prometeu perseguir negros, judeus, travestis, prostitutas e minorias e infelizmente cumpriu.

O que se deslumbrou após a carreata promovida em Olímpia foi o aumento dos ataques a quem discorda do mito em redes sociais, as ameaças de morte e todo tipo de barbaridade e censura que está acontecendo pelo país afora.

O curioso é que os que advogam a violência refletem, como refletiam os nazistas, que nada do que proclamam enquanto violência, ocorrerá se eleito seu líder, e os inocentes brasileiros como os puros da Alemanha de então, acreditam.

O futuro ditador da Alemanha nazista perma­ne­ceu apenas nove meses na prisão de Landsberg, escrevendo nesse período seu manifesto polí­ti­co, Mein Kampf.

 Ao deixar o cárcere, Hitler teria tomado a decisão que nortearia seu futuro na política: ele não mais desafiaria a autoridade de maneira direta, mas trilharia seu caminho ao poder pela via legal. Tendo proferido famosa frase (“A de­mo­cracia deve ser des­truída por suas próprias forças”), Hitler alcançaria seu objetivo em pouco menos de 10 anos, com a complacência de militares e políticos mais conservadores, os quais desejavam pôr um fim à desordem provocada pela luta de poder entre nazistas e comunistas.

Hitler, ao contrário do mito, nunca falou que a ditadura matou pouco e que deveria matar trinta mil. Sem esta fala matou seis milhões.

Falar que o ditador daqui é diferente do criminoso da Alemanha é fácil, porque ele ainda não chegou ao poder, tão fácil quanto era para os alemães antes de Hitler assumir.

O que se vê de violência verbal em Olímpia e verbal e física no Brasil é coisa que nunca se viu antes e a maioria delas provocadas pelos seguidores de alguém que propaga ódio, arma e sangue como solução para um país que precisa de paz.

A democracia não deve ser destruída pelas suas próprias forças.

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