27 de maio | 2012

Os ladrões do dinheiro público

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Do Conselho Editorial

Por trás desta discussão da moralização da coisa pública que vem sendo levada a exaustão pela mídia e por segmentos representativos da sociedade, está algo que deveria ser por demais vergonhoso não fosse a cultura da impunidade incrustada nas instituições e na alma do povo brasileiro.

O arcabouço legal é muito mais um calabouço destinado a aprisionar qualquer desejo de que se faça luz sobre a justiça do que qualquer outra coisa.

São anos até que alguma sentença cumpra o ritual até a ultima instância, quando não se extingue o processo por questões prescricionais, sem contar os vícios processuais e as artimanhas que permitem arrastar “ad eternun” questões vergonhosamente escandalosas, que quando finalizam, ou os culpados estão mortos, ou já se esqueceu do ocorrido.

E “la nave va”, a cada dia se apresentando para o espetáculo da demonstração da falta de decência do homem público, uma situação mais cabeluda que a outra.

Agora, ao que tudo indica, a bola da vez é o escândalo do Demóstenes Torres, conhecido senador do DEM, ligado ao contraventor Carlinhos Cachoeira, famoso caso Cachoeira.

O enredo se assemelha as novelas mexicanas que envolvem desde a compra de móveis para o senador democrata até a manutenção do seu alcoolismo com vinhos comprados através do cartão de crédito do bicheiro.

Por se tratar de uma situação que envolve vários nomes de notáveis picaretas e saqueadores da política nacional com trânsito nas mais altas esferas do poder, já se começa esboçar um movimento para esvaziar as investigações no plano político.

Tudo indica que havia uma encenação pra se demonstrar que a farsa na qual se envolvia o democrata moralizador envolvido com o que há de pior em termos de contravenções e cambalachos na face da terra, tinha um lado, uma tendência.

O desenrolar dos fatos veio confirmar que a possibilidade de não sobrar pedras sobre pedras aconselha aos maus-caracteres de plantão que a insistência em se provar o que está por trás da falcatrua do democrata avança sobre o quintal dos vizinhos, atingindo desde a cachorrada da vizinhança até pequenos ratos que neste momento presente tremem em suas tocas com medo do que os gatos possam miar nas CPIs feitas para investigações de mentirinha.

Melhor, investigações com claros objetivos, o de demonstrar que os que se opõem fazem parte de um grupo sinistro montado para botar a mão no dinheiro público, que só não prosperam por que o caminhar do processo faz saltar nomes e envolvimento muito próximos, que parecem demonstrar que o roto está investigando o rasgado.

E ai o espetáculo armado para demonstrar que existem pessoas decentes e éticas como as que descreviam os discursos anteriores do Senador Demóstenes Torres acaba tendo perda substancial por ter que ser omitidos alguns nomes que comprometem a estabilidade do projeto político.

Ocorre que o espectro político que se pretende combater, ou demonstrar que está mais sujo que pau de galinheiro, lembra a população dos nomes e sobrenomes dos que do outro lado partilham da mesma fraqueza sendo gatos do mesmo balaio, farinhas do mesmo saco.

A política brasileira parece que não muda nunca, pelo menos é isto que pensa o povo brasileiro que convive, vê diariamente pessoas que entram na política com uma mão na frente e outra atrás e em tempo muito curto mostram um crescimento econômico incompatível com a realidade da nova função.

As indicativas são de que estejam roubando dinheiro público, e só o fazem por que as circunstâncias criadas no país em termos de legalidade e de percepção da população em termos de condenação destas ações prejudiciais a melhoria da qualidade de vida é quase nula, ausente.

Contam com a justiça falha, com a condescendência da sociedade, com a visão que premia o ladrão do dinheiro público com o rótulo de esperto, inteligente, e com a triste conclusão que ora é emitida pelas investigações no cenário político do Caso Cachoeira, que Demóstenes pode ser, mas a reação desfavorável a que a investigação se aprofunde parece demonstrar que a maioria também é.

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