05 de março | 2017

Pelo jeito não houve carnaval?

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Do Conselho Editorial

Subentende-se que carnaval é uma manifestação popular que envolve a comunidade e os reflexos da folia na cidade deixa a impressão de que não houve carnaval este ano.

Há uma percepção de que o Brasil só começa a funcionar depois do carnaval, que se for verdadeira, Olímpia só funcionará depois de fevereiro de 2018.

Não se pode nem chamar de retumbante fracasso, pois até os retumbantes fracassos conseguem encontrar explicações para se darem, a falta de animação que acometeu a cidade turística no carnaval deste ano.

Imaginava-se que não seria bem sucedido, entregue que estava nas mãos dos que não ponderam senão pela imposição e pela centralização desmedida, sem propósito; imaginar que seria bem pior que o esperado foi algo surpreendente até para os pessimistas que acham que o péssimo é bem mais péssimo que parece.

Posições divergentes por tolice, por ausência de o­lhar pan-óptico, que permitisse ver todos os elementos, todas as partes que podem compor o even­to, talvez concluísse pela infelicidade da promoção.

Do ponto de vista das escolas de samba, como sempre nenhum retoque, foram, para variar, além das expectativas que o poder público costuma impor a elas.

Demora na liberação da verba, discussões extensas e demoradas sobre o sexo dos anjos, coisas que não levam a nada e a lugar algum, só retardam o processo.

No final atrapalham tanto a que elas possam iniciar seus trabalhos, que o tempo que sobra para com­­pra de equipamentos novos, ensaios e confecção de fantasias é tão pouco que o resultado final do espetáculo é um milagre de dedicação e boa vontade que merece elogios.

E, parcela de seus integrantes, em parte por atre­lamento ao poder por simpatia, convicção ou emprego, acaba, por razões óbvias, elogiando o espetáculo que deveria ser melhor.

Outra parte se envolve de tal maneira no desfile que não consegue observar que uma cidade turística merece muito mais que o que tem sido apresentado nos últimos anos.

A avenida, em um pequeno trecho mostrava um nível de organização excelente, no entanto, o trecho destinado ao desfile, era infelizmente, contrário a qualquer lógica de ocupação de espaço por seres humanos que habitam u­ma cidade com mais de cin­qüenta mil habitantes e se orgulha de receber milhões de turistas no a­no.

Os trechos que não abrigavam o desfile era a face triste dos desorganizado­res, fosco, sem vida, abandonado na escuridão de idéias toscas e sem brilho.

Se não fosse levado a efeito o evento carnavalesco em uma cidade turística, que deveria ter a obrigação de fornecer diversão aos seus habitantes e aos turistas, cidade com orçamento próximo dos duzentos milhões ou pouco mais, pode ser que fosse ótimo.

Fosse, por exemplo, o carnaval de uma corrupte­la esquecida no país das Lava Jatos, com quinze, vinte mil habitantes, sem pontos turísticos, tradição carnavalesca perdida por incompetência dos homens públicos, teria sido maravilhoso.

Porém, na cidade que ocupa o lugar que ocupa entre os melhores parques aquáticos da América Latina foi de doer, foi vergonhoso, lastimável.

Aos que amaram, fica a dica, anda faltando exigência e sobrando conformismo, ou, há quem goste dos olhos e há quem goste de remelas e gostos que são desgostos sem que o dono saiba.

O leitor deve estar se perguntando do momento que o texto for adentrar no baile de Carnaval do Recinto, ai só rindo para não chorar.

É coisa indefensável até para o pelego que vai por cima do pelego.

Nenhum réptil submisso e baba ovo, por mais réptil que possa ser perderá sua salivação venenosa para defender o que não houve.

E como parece que não houve, pelas silenciosas ausências de manifestação nas redes sociais, pela falta de músicas carnavalescas madrugada afora animando as cercanias do recinto e os bairros do entorno, não se pode falar do que aconteceu em silêncio total.

Pelo menos no ano que vem se contratarem alguém fenomenal na área de marketing, pode se criar o primeiro carnaval sem gente e sem barulho do mundo.     

 

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