10 de maio | 2015

Uma nau a deriva

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Do Conselho Editorial

Ao que tudo indica dias de tormenta virão por ai, a mobilização da sociedade como um todo, envolvendo todos os segmentos dão a sensação de que o vendaval apenas começou a soprar.

O bate panelas das dondocas e a marcha pró impeachment da elite branca pode ter refluído, diminuído a intensidade, não significa, porém, que não pode voltar com tudo a qualquer momento.

Os movimentos sociais e as reivindicações dos sindicatos de todas as categorias abrigados em siglas à direita e à esquerda fornecem material suficiente para se entender que as ruas doravante serão ocupadas por palavras de ordem e descontentamentos de todas as matizes ideológicas focados nos poderes federais, estaduais e municipais.

A crise que se avizinha aprofundará discussões relacionadas aos desmandos administrativos de toda ordem levados a efeito no período de vacas gordas e que serão evidenciados agora na longa estiagem que se anuncia no cenário nacional.

Evidente que a crise que acomete o mercado mundial já abraça a nossa economia e os reflexos já se fazem sentir nas contas públicas, cujas arrecadações já começam a dar sinais visíveis de que não acompanharão o mesmo nível de crescimento em razão do baixo desempenho que o mercado já sinaliza, irá ter doravante.

Usinas sucro alcooleiras amargam prejuízos, margem irrisória de lucros, empresas no vermelho ou no crescimento vegetativo já sinalizam para férias ou demissões, desemprego atingindo patamares não vistos antes na última década, setor da construção civil e imobiliário estagnados, comércio se queixando do volume baixo de vendas e indústria automobilística estocando por conta do baixo volume de vendas.

A situação ainda não é preocupante, embora já tenha acendido a luz laranja dando sinal claro de alerta de que se não for tomada uma decisão em todos os níveis de governo, em relação a retomada do crescimento em breve, muito breve, o caos que vimos instalados nas manifestações em alguns centros tomarão grande parte do território nacional.

Presidente, governadores, senadores, deputados, prefeitos, vereadores, mostram uma insensibilidade gritante no tocante ao futuro do país, nada se vê em termos de discussão que possa pelo menos aparentemente demonstrar que esta realidade terrível esteja sendo discutida com a seriedade que deveria.

Enquanto milhares marcham pelas ruas, enquanto milhares são enfrentados pela força bruta das balas de borracha, dos gases lacrimogêneos, dos cassetetes antidemocráticos.

Enquanto milhares lutam por mais direitos, nos gabinetes os mandatários, como se nada estivesse ocorrendo conspiram contra o povo.

Há uma tremenda falta de sintonia entre o desejo popular e a imposição dos que deveriam legislar de acordo com a vontade soberana do povo, decepam direitos no meio de uma tormenta popular que cresce a olhos vistos como se não houvesse memória e punição vinda da voz das ruas.

Crêem em demasia na cantada e decantada ausência, alheamento, falta de politização, civismo, e desde julho quando o povo foi ás ruas que se percebe que a classe política não tirou nenhuma lição daqueles movimentos, e continua esticando a corda na direção contrária dos anseios populares.

Máquinas públicas inoperantes, inchadas, verdadeiros cabides de emprego, toda legislação votada e voltada a trazer benefícios a grupos, instituições ou ao espírito de corpo e prejuízos a nação que podem ser irreversíveis.

Só para ficar em alguns exemplos, a PEC da Bengala que beneficia alguns ministros do STF e pode vir a prejudicar todo funcionalismo ou dependentes da previdência, a terceirização da atividade fim que pode tornar bem mais corrupta que é a máquina pública, a tentativa de se retomar a discussão da demarcação das terras indígenas, Reserva Raposa do Sol, que trará um clima de guerra para o campo, questão da diminuição da maioridade penal, e outros tantos projetos de lei que são retrocessos na sociedade brasileira que estão sendo votados a toque de caixa.

E na mesma direção seguem os governos estaduais e municipais encaminhando a Assembléias e Câmaras verdadeiros remendos legislativos que perpetuam injustiças e remetem ao passado sem avançar propositivamente em direção a modernidade.

E a economia dando mostras evidentes de vazar água e os homens públicos fazendo de tudo para manter privilégios dos que os rodeiam e deixando de lado questões básicas como geração de emprego e renda, industrialização, modernização do parque industrial nacional, investimento em tecnologia de ponta, modernização dos sistemas de produção na agricultura, escoamento moderno, barato e eficiente de produção com criação de portos, estradas, aeroportos.

Enfim, em uma ponta, uma nau naufragando como o Titanic com o povo desesperado, se afogando em dívidas e em desespero e do outro políticos não refletem o momento que a nação vive, sempre na contra mão da história comemorando vitórias de Pirro ao brinde de champanhas e ao som de uma orquestra que irá a pique se nada for feito para estancar a sangria econômica.

E se não for feito, daqui a pouco as ruas estarão repletas de indignados de direita, centro e esquerda gritando contra o que já gritaram e não foram ouvido, misturados a grande massa de miseráveis e desempregados que possivelmente se formará, se nada for feito para mudar o cenário econômico que já se mostra nebuloso no horizonte.

 

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