27 de julho | 2014

Campanha eleitoral nas ruas

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Do Conselho Editorial

Foi dado o ponta pé inicial.

Nas redes sociais alguns candidatos já esboçam o que poderá vir a ser o início da campanha eleitoral.

Nos facebooks da vida os mais organizados já exibem suas fotos com o devido número de registro de candidatura e timidamente o país que abrigou a copa do mundo vai deixando de lado sua enorme paixão futebolística, e se jogando na desacreditada tarefa de escolher entre nomes suspeitos e insuspeitos aquele que poderá, na ótica de cada um, representá-lo de forma melhor e mais respeitosa que outros.

Já houve tempo em que o discurso do voto atrelado à questão do exercício da cidadania era em tese bem recepcionado por grande parte da sociedade, que demonstrava desejos claros de fortalecimento das instituições e necessárias reformas no processo de escolha dos representantes populares.

De tal forma a classe política foi incorporando, e foi sendo votados pelo povo, figuras sinistras e tão corruptas que a representação popular começou a ser vista, infelizmente, muito mais como abrigo de oportunistas e levadores de vantagens que um sacerdócio onde a defesa do bem pátrio estivesse acima das questões de ordem pessoal.

E, virando negócio, a política, com retorno garantido aos concorrentes, adicionou-se as campanhas um componente que retirou delas o essencial, a discussão programática e ideológica, foi transformado o político em uma mercadoria, cuja imagem, muitas vezes mentirosa, é construída por um homem de marketing em um laboratório qualquer.

 E, assim, baseado em pesquisas, o candidato vai falando aquilo que naquele momento o eleitor gostaria de ouvir.

Há discursos de solução genérica para tudo nas estantes que irão assegurar segurança onde prospera a violência, remédios e médicos onde pacientes são abandonados a morrer a míngua em corredores de hospitais mal aparelhados e sem remédios.

Educação de ponta onde o alunado não conseguiu o resultado que tirasse a venda da ignorância que lhe tapa a visão de futuro.

Trabalho e renda onde se instalou a miséria.

Cultura, lazer e desportos, onde se evidencia esta necessidade.

Tratamento humanizado, distribuição de renda, direitos previdenciários garantidos, reforma política, moralização da CBF, transporte público de primeiro mundo, trem bala, metrô, ferrovia, duplicação de rodovias, diminuição do preço de pedágios, melhorias na malha viária, diminuição do número de impostos, promessa de domar a fúria do leão do imposto de renda, fomento a indústria, valorização do agronegócio, discussão de políticas ambientais, rigor nas leis penais vigentes, reforma política, melhorias no SUS, fiscalização rigorosa nos planos de saúde.

E, assim, de discursos de ocasiões, que satisfaçam  plateia do momento, fundidos às inevitáveis denúncias de corrupção, seguirá a nação de chuteiras até outubro quando as urnas determinarão que produto de marketing foi escolhido pelo desejo do eleitor, que falação mais bonitinha e mais atenta ao problema, ou ao imediatismo satisfez a maioria. Via de regra, sendo produtos, mercadorias a ser consumidas pelos eleitores, nossos políticos tem também seus prazos de validade, e aí entra a nova discussão que substitui o antes coerente da necessidade de mudança do país através da escolha proporcionada pelo voto, agora, os eleitores tem, ou devem estar atentos ao prazo de validade de cada um daqueles camaleões que mudam a cor dos seus discursos de acordo com conveniência momentânea.

Perguntarão alguns dos senhores leitores como se pode fazer a identificação do prazo de validade do discurso de cada candidato, e o que pode parecer tão complexo a primeira vista é muito mais simples do que parece ser.

Antes, os políticos mostravam suas plataformas, suas propostas, seus planos de governo e invariavelmente não cumpriam, e isto acabou por fornecer o grande descrédito que a classe política se encontra.

E, se antes quando eram ideologizados e propunham mudanças que não ocorriam foram sendo desvelados pela população, que ao invés de exigir quadros melhores optou por se deixar corromper, agora que cinicamente são mercadorias e não há necessidades de revelação alguma, estão desnudos, a coisa ficou fácil, baba, como diz a maioria.

Produto é produto, e embalagem não resiste ao tempo, é olhar a quantidade de açúcar ou sal contido nas promessas aliada a quantidade de conservante, a temperatura em que deve ser conservado para se saber se suportará o verão dos calendários políticos e a exigência mansa e morna de uma população egocêntrica que geralmente só se mostra indignada com o que acontece consigo.

Muita gente não compreenderá o contido no texto e outros irão além do que foi a pretensão e entre um e outro cabe uma simplificação que poderia tornar bem mais explícita a situação.

A promessa, independente de projetos, programas, propostas, ideologias, como era antes, ou agora que visa apenas a construção da imagem do candidato, tem por escopo, intento, alvo, intenção, finalidade, propósito, desígnio, e se tudo que foi explicitado como objetivo a atingir não estiver lastreado na realidade econômica do Estado ou da Federação, o produto é altamente perecível.

Para ser mais explícito ainda, melhor ir a exemplos, há quantos e quantos anos se acena com a reforma eleitoral e a mesma não ocorre, reforma tributária ou agrária, solução para os precatórios, plano de carreira para o professorado.

Se entendeu, entendeu, se não entendeu, volte nos próximos editoriais que pode ser que o debate volte a cena.

Enquanto isto vá procurando na prateleira a mercadoria político partidária que mais se assemelha ao seu sonho de consumo, atentando sempre para o prazo de validade.

Se antes o eleitor votava em po­líticos que se transformariam em corruptos e participantes de máfias, agora o eleitor corre o risco de eleger produtos que estão po­dres e impróprios para consumo.

 

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